quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo!!

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo 
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mais uma vez é Natal


(por Daniel Munduruku)


Mais uma vez é natal. Tempo de dar um tempo. De dar tempo ao tempo que escorre pelas mãos. Um tempo de dar tempo ao tempo que foge solitário entre os vãos e desvãos de nossas vidas. Tempo de pensar, de refletir, de meditar.
Mais uma vez é natal. Tempo de pensar no dono do tempo, o Atemporal. Hora de não ficar contando as horas e ajoelhar-se diante das maravilhas que a vida oferece. E tempo de refletir sobre as injustiças que cometemos diariamente.
Mais uma vez é natal. O que estamos celebrando? O consumo? A melodia das compras? As imagens televisivas? O tilintar das moedas nas caixas registradoras? As doces engabelações do sistema financeiro? Os programas que "dão" presentes para os deserdados da vida?
Mais uma vez é natal. O que nos resta da data que celebramos? Lamento dizer: nada. Apenas uma ilusão de que nosso espírito humanitário continua intacto. Uma reunião de família [normalmente morna e sem sentido] que não existe mais. Perus abatidos inertes sobre uma mesa que não nos lembra mais que ser humano é movimento.
Mais uma vez é natal...e daí? As chuvas continuarão caindo com intensidade sempre maior derrubando casas e esperanças. Os governos continuarão "brincando" de deuses. Os multimilionários gastarão suas riquezas com vaidades insensatas. Meninos e meninas continuarão sendo violentados pelo sistema educacional que teima em não se renovar.
Mais uma vez é natal...o que nos resta se tudo vai continuar do mesmo jeito? Voltaremos à vida banal de antes depois de tomarmos uns drinques e fizermos todas as promessas de renovação, de mudança?
Mais uma vez é natal. Ano após ano é natal. Dia após dia é natal. Hora após hora é natal. É o seu natal, é o meu natal.
Para que serve o natal? Para nos lembrar que a roda está rodando. Que o ciclo está se acabando. Para lembrar nossa finitude. Para alertar que nada somos. Que pertencemos a uma humanidade que está se autoflagelando. Foi para isso que o pajé Jesus nasceu. Não foi para nos salvar, mas para nos condenar à solidão de nós mesmos. Para nos lembrar que é possível ser Deus mesmo sendo humanos. E que é possível ser humano mesmo sendo um Deus.
Somos um e outro quando não esquecemos que mais uma vez é Natal!

 

 


 


 


 


 


 


  

Indígenas participam de vestibular integrado

  • Fonte: O Diário.com
Nesta quinta e sexta-feira, dias 16 e 17, será realizado na UEM o X Vestibular dos Povos Indígenas. Esta edição do concurso conta com 280 inscritos, que devem fazer as provas no Bloco 30, salas do Instituto de Línguas, no câmpus sede.   O concurso é organizado pela Comissão Universidade para os Índios (Cuia), composta por três representantes das sete universidades do Estado e da Universidade Federal do Paraná. Todos os integrantes são professores das instituições com pós-graduação em temática indígena.   
Cada universidade estadual oferece seis vagas, disputadas, exclusivamente, entre os índios integrantes das sociedades indígenas do estado e a Universidade Federal do Paraná oferta dez, pelas quais concorrem também indígenas de outras regiões do Brasil. 
No dia 16, os candidatos fazem uma prova oral de Língua Portuguesa, das 9h às 12h e das 14h30 às 19 horas. Para esta etapa, haverá treinamento da banca de avaliação, na quarta-feira (15), às 15 horas, no Bloco F-67, laboratório de Matemática. A prova foi elaborada pela pesquisadora, da USP, Maria Aparecida Onório. Ela é doutora em Linguística pela Unicamp e pós-doutora pela USP, com projetos ligados a questões indígenas. 
Já no dia 17, das 14 às 19 horas, os candidatos respondem sobre temas de Biologia, Química, Matemática, Física, História, Geografia, Língua Portuguesa – interpretação de textos e Redação. Além das provas de Língua Estrangeira Moderna, com opção por inglês ou espanhol, ou Língua Indígena, com opção entre o guarani e kaingang. 
Este vestibular está sendo coordenado pela UEM, responsável pela alimentação e alojamento dos indígenas durante o período de provas. Também participam do processo as universidades estaduais de Ponta Grossa (UEPG), Londrina (UEL), do Centro Oeste (Unicentro), do Norte do Paraná (Uenp), Oeste do Paraná (Unioeste), e do Paraná (Unespar). 
O resultado será divulgado no 10 de janeiro. Informações com o professor João Cesar Guirado, no Bloco G-45 ou pelos telefones (44) 3011-8981 e 3011-4670 e site www.vestibular.uem.br/indigenas. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Lei 11.645/08: Modos de Usar [Encontro Dois]


Edson Kayapó, Marcos Aguiar, Graça Graúna e Daniel Munduruku
Foi com o objetivo de discutir a lei que dispõe sobre a obrigatoriedade da inclusão de temática indígena em todos os níveis da educação brasileira que o Instituto Uk'a – Casa dos Saberes Indígenas – organizou o encontro de especialistas indígenas dentro do projeto Dez Encontros com a Literatura Indígena. O encontro, voltado para educadores, editores, estudantes e interessados em geral, aconteceu na manhã do dia 13 de dezembro no auditório da Biblioteca Pública Infanto-Juvenil Monteiro Lobato, em São Paulo.
Wapichana canta e encanta
Logo na abertura o conhecido autor Daniel Munduruku [que também preside o recém criado Instituto] fez o lançamento oficial do selo Uk'a Editorial ligado ao instituto e cujo objetivo é publicar livros sobre a temática indígena que agreguem valor na formação da consciência crítica das crianças e jovens brasileiros. O primeiro título do novo selo tem o sugestivo nome Mundurukando, de autoria de Daniel Munduruku.
Cristino Wapichana fez uma abertura poética animando a plateia com seu violão lembrando a importância da música para os povos indígenas brasileiros.
Na sequência o indígena Kayapó Edson Brito, doutorando em educação na PUC/SP, dissertou sobre o histórico da lei 11.645/08 mostrando que ela é fruto de uma demanda do próprio movimento indígena brasileiro. "A lei não é uma gentileza do governo brasileiro. Ela é fruto de uma luta que os povos indígenas vêm travando desde a década de 1970 cujo objetivo é tirar estes povos da invisibilidade histórica a que foram submetidos", comentou o intelectual.

A segunda pessoa a expor suas ideias foi o indigenista Marcos Aguiar que desenvolve um trabalho muito rico com os indígenas em contexto urbano através da atuação da ONG Opção Brasil. O especialista lembrou que a referida lei impõe uma obrigatoriedade às escolas, mas não obrigou o próprio Estado brasileiro a preparar os professores para lidar de forma competente com a temática em questão. Marcos lembrou que "o Brasil precisa preparar melhor seus educadores, caso contrário a lei vai apenas impor um conteúdo que já está sendo mal trabalho nas escolas brasileiras".

Daniel Munduruku – mediador do debate – lembrou que os povos indígenas estão utilizando as novas tecnologias para tornarem-se mais visíveis para o Brasil. Segundo ele "a literatura é um desses novos mecanismos que a memória se utiliza para se atualizar. Pensar literatura indígena apenas como escritura é menosprezar a visão holística tradicional que não divide os saberes e engloba as várias formas de manifestações do corpo".
Olívio e Verá Mirim conversam com o público
Encerrando a fala dos convidados Graça Graúna, indígena Potiguara do Rio Grande do Norte e doutora em Literatura pela UFPE, lembrou o surgimento da literatura indígena citando nomes de pessoas que contribuíram para o nascimento deste fenômeno. Lembrou também que sua dissertação de mestrado [que abordava o tema pela primeira vez] recebeu forte resistência no contexto da universidade quando a impossibilitando de dar continuidade aos estudos. Graça Graúna chamou a atenção da plateia pelo seu jeito simples, mas profundo de abordar a temática da literatura reafirmando a necessidade de se redescobrir o Brasil através da leitura das obras dos autores indígenas. Ela diz que "sem este movimento literário, o movimento indígena perderia uma importante vertente para educar o olhar da sociedade brasileira".
O encontro encerrou-se com um momento de perguntas e respostas entre o público e os convidados com especial destaque à presença do escritor guarani Olívio Jekupé que veio da aldeia Krukutu, localizada em Parelheiros, zona sul de São Paulo, em companhia do pajé Verá Mirim. Ambos tiveram oportunidade de conversar com o público e divulgar a presença guarani em terras paulistanas...ou seria o contrário?

Cartaz de divulgação do evento
No encerramento, foi lembrado aos presentes [aproximadamente 30 pessoas] que o Projeto Dez Encontros com a Literatura Indígena, proposto pelo Instituto Uk'a, terá continuidade em 2011 e que a instituição irá buscar parcerias para a realização dos temas que serão escolhidos para os próximos encontros. Munduruku lembrou que este segundo encontro foi patrocinado pelo Instituto EcoFuturo, Instituto C&A e pela empresa Farmoterápica. Teve o apoio, ainda, da Prefeitura Municipal de São Paulo através do Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas e da Biblioteca Infantil e Juvenil Monteiro Lobato.




Sarau Lítero-Musical: um encontro para marcar a inauguração do Instituto Uk'a

Daniel Munduruku, Marcos Terena, Naine Terena e
Cristino Wapichana durante sarau.
Com muita alegria e relativo sucesso que inauguramos o Instituto Uk'a no último dia 03 de novembro quando realizamos um sarau Lítero-Musical sobre literatura indígena na cidade de Lorena, sede da instituição. Para lá levamos convidados e convidadas ilustres que abrilhantaram a o evento e o fizeram uma noite estrelada e poética. Lá estavam presentes o músico Cristino Wapichana, oriundo de Roraima e morando atualmente no Rio de Janeiro onde frequenta o curso de graduação em Administração de Empresas; também pudemos contar com a presença de Naine Terena, oriunda de Cuiabá, jornalista que faz seu doutorado em educação na PUC/SP; Marcos Terena, experiente líder e fundador do Movimento Indígena Brasileiro nos idos da década de 1980. Daniel Munduruku, escritor conhecido e reconhecido no Brasil e no Exterior, foi o mediador deste encontro e é também o Diretor-Presidente do recém criado Instituto Uk'a (palavra que significa casa, em Munduruku).

Literatura Indígena e selo editorial.
Na abertura do evento o presidente lembrou da importância e da necessidade de uma instituição que dê conta de difundir a cultura indígena através da literatura produzida por autores indígenas e da preparação dos educadores para trabalharem a temática indígena de forma inclusiva e competente. Na ocasião, Daniel Munduruku fez questão de lançar o livro Mundurukando, de sua autoria, para marcar a inauguração do Selo Uk'a Editorial que pretende editar livros de interesse para a difusão dos saberes indígenas lembrando que "não será um selo que irá publicar apenas autores indígenas, mas que está aberto para obras em geral que retratem o universo indígena".

Sarau Lítero-Musical
Após estas palavras iniciais o evento foi iniciado com cantos de Cristino Wapichana, palestra e recitação de poesias de Naine Terena e palavras inspiradas de Marcos Terena. Após, o público interagiu através de perguntas e no final houve sessão de autógrafos do livro Mundurukando que a seu respeito fala o autor: "É um livro que retrata alguns pensamentos que venho desenvolvendo em minhas participações em palestras, eventos literários e indígenas. Pensei em colocar como título algo como filosofando, mas pensei melhor e resolvi criar esta palavra, um gerúndio que lembra movimento e tem mais a ver com o universo indígena. Os gregos filosofavam. Os Munduruku, mundurukam".
INSTITUTO UK’A
Casa dos Saberes Ancestrais
(institutouka@uol.com.br)
QUEM SOMOS
Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais é uma instituição definida como OSCIP, sem fins-lucrativos e de caráter educativo e cultural. Foi concebida por um grupo de profissionais indígenas e não-indígenas com o objetivo central de prestar serviços na área educativo-cultural proporcionando maior conhecimento da Lei 11.645/08 que instituiu a obrigatoriedade da temática indígena e afro-brasileira no currículo escolar brasileiro. Nossa instituição é composta por renomados profissionais e ativistas das causas sociais brasileiras com comprovada experiência nas áreas que se propõe atuar.
NOSSOS OBJETIVOS
+ Promover a qualificação de gestores, educadores, estudantes para a aplicação consciente da Lei 11.645/08 que garante a temática da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar brasileiro com especial ênfase à cultura indígena;
+ Realizar e divulgar pesquisas, estudos e organizar documentação referente à temática Indígena e disponibilizar seus resultados ao público interessado;
+ Propiciar cursos presenciais e on-line, mesas-redondas, debates, seminários sobre a temática Indígena e publicar seus resultados;
+ Criar um espaço permanente de atendimento ao público para oferecer maior acessibilidade aos nossos projetos e programas;
+ Qualificar jovens indígenas para o exercício do magistério em área indígena oferecendo abordagens e metodologias diferenciadas;
+ Organizar biblioteca especializada sobre a temática indígena que sirva como referência aos pesquisadores e interessados no tema;
+ Organizar festivais, mostras culturais, espetáculos e eventos ligados ao universo indígena brasileiro;
+ Organizar programas de incentivo à leitura de obras de autores indígenas.
NOSSA MISSÃO
PROMOVER A CONSCIÊNCIA DA PRESENÇA DAS CULTURAS INDÍGENAS E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL E SUA PERMANENTE CONTRIBUIÇÃO PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA
NOSSA DIRETORIA
A diretoria do Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais – é composta por profissionais de reconhecida competência social e acadêmica, a fim de oferecer melhores condições de aprimoramento aos gestores e educadores brasileiros respeitando a própria estrutura educacional e as diretrizes nacionais propostas no âmbito da Lei 11.645/08.
NOSSAS AÇÕES, NOSSOS PROGRAMAS
As ações do Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais – serão organizadas a partir de programas múltiplos com o objetivo de abranger os diversos aspectos das culturas focalizadas em sua missão institucional. Para tanto estamos propondo os seguintes programas:
1. UK’A Educacional – Atividades presenciais contemplando vivências e reflexões.
Cursos para gestores e educadores – Estes cursos abrangerão as temáticas propostas pelo Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais – levando em consideração a qualificação dos profissionais da educação para que possam trabalhar de forma competente e inclusiva a temática indígena. Neste sentido, este programa oferecerá diversos formatos metodológicos de acordo com a demanda apresentada pelo público-alvo como: Mesas-Redondas e debates; Seminários e Rodas de Conversas; Elaboração de material didático para aprofundamento dos temas propostos.
2. UK’A Virtual – Ambiente virtual que oferecerá atividades não-presenciais que contemplem aprofundamento das vivências e reflexões.
Cursos On-line – onde serão abordados os mesmos temas do curso presencial, mas voltados para educadores de todo o país que estejam conectados à rede mundial de computadores.
Biblioteca Virtual – onde os internautas possam ter acesso aos títulos disponíveis sobre a temática indígena e possam consultá-los e, eventualmente, baixar conteúdos em formatos disponíveis na internet;
Livraria Virtual – onde o público-alvo possa adquirir títulos que complementem sua atuação pedagógica.
3. UK’A Literária – Atividades que contemplem debates e reflexões sobre a literatura indígena como:
Saraus Literários;
Mesas temáticas (reflexões teóricas sobre a literatura indígena);
Programas de incentivo a leitura para crianças e jovens;
Lançamentos de Livros.
4. UK’A Cultural – Atividades que levarão aos educadores e público em geral a arte e a cultura indígena brasileira.
Exposições
Biblioteca especializada
Contação de histórias
Mostras
Eventos culturais
5. UK’A Editorial – Selo editorial para a publicação de livros e material de apoio para educadores sobre a temática indígena.