segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Magistério indígena forma mais 40 professores


É um momento de muita alegria para todos os sete povos indígenas tocantinenses. Nesta sexta-feira, 27, acontece o encerramento do curso de Magistério Indígena, sediado no Centro de Ensino Médio José Alves de Assis, em Paraíso. Quarenta professores indígenas, que já ministravam aulas nas aldeias, agora concluem o curso, que tem duração de quatro anos. Uma oportunidade de melhorar a qualidade do ensino oferecido para as crianças e jovens indígenas no Tocantins. 

“É um intensivão. As aulas acontecem durante o dia e a noite. Nos fins de semana são realizadas atividades especificas que abordam questões como a preservação do patrimônio público, o alcoolismo e o referencial curricular para as escolas indígenas”, explicou a coordenadora do curso, Lídia Soraya Liberato Barroso. 

O curso de Magistério Indígena é dividido em dois módulos ao ano, que coincidem com as férias escolares de julho e janeiro, com duração de um mês. No total, estudam 154 professores indígenas. 

Na escola, eles chegam das aldeias acompanhados de filhos e netos. Para envolver as crianças e jovens são desenvolvidas atividades diferenciadas. São trabalhos lúdicos, como o resgate das brincadeiras indígenas. Parte das salas de aula viram alojamentos, que recebem estrutura específica. “A logística para realizar um curso como este é grande. A própria Seduc coordena e realiza o curso, que antes era terceirizado. A economia com essa mudança foi de 50% dos gastos. As Diretorias Regionais de Ensino apoiam os trabalhos, que envolvem, na verdade, toda a Secretaria da Educação: técnicos, coordenadores, professores, motoristas e muitos outros profissionais. Mas é um prazer imenso saber que estamos trabalhando para o fortalecimento da cultura indígena”, contou o diretor de Educação Indígena e Diversidade da Seduc, Maximiano Bezerra. 

Todas as etnias estão representadas no curso: Krahô, Krahô Kanela, Javaé, Xerente, Xambioá, Apinajé e Karajá. Ovídio Krahô dá aulas para alunos do 1º ao 9º ano e agora tem a oportunidade de aprender coisas que ainda não sabia e ensinar melhor seus alunos na escola. “Estou tirando muitas dúvidas que eu tinha sobre língua portuguesa, que era um desafio pra mim na sala de aula. Aqui os professores explicam e eu posso esclarecer pros meus alunos”, contou. 

André Cohtat Krahô, professor das turmas de 2º e 3º ano e de 6º ao 8º ano, também valoriza o que tem aprendido. “Eu estou recebendo muitos conhecimentos importantes. Tinha muitas coisas que eu não sabia, agora eu sei como dar aulas, como planejar”, esclareceu. 

Os professores que ministram as aulas são da própria Secretaria Estadual da Educação e também das etnias tocantinenses, que ministram aulas de línguas indígenas, além de professores das Universidades Federal do Tocantins e de Goiás. O professor Francisco Edviges Albuquerque, que só em 2011 publicou três livros sobre a etnia Apinajé (um dicionário, uma gramática e um de literatura indígena), conta que o mais gratificante é ver o interesse e os resultados obtidos. “Eu já trabalho há 16 anos com a língua indígena. Sou mestre e doutor nessa área e posso afirmar que eles são bastante interessados e veem positivamente essa capacitação, visto que eles conhecem a parte prática, mas a teórica é passada por nós, professores”, frizou. 

Licenciatura Intercultural
A partir de 2012, as escolas em aldeias das etnias Apinajé, Xambioá, Xerente e Karajá darão um salto de qualidade. Elas começarão a receber os primeiros professores índios graduados em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Do Tocantins, 24 professores se formaram e colam grau em abril deste ano. A Seduc tem convênio com a universidade, o que permite que mais professores indígenas possam conseguir o diploma no ensino superior. 

“Eu faço parte desse projeto há 15 anos e vi muitos professores do magistério que já fizeram o ensino superior. A maioria dos alunos que terminam esse curso são aprovados para o curso de Licenciatura Intercultural em Goiânia. Quando eles voltam para as aldeias a mudança é muito grande. Eles chegam mais preparados para melhorar a qualidade de vida na etnias”, líder do Grupo de Trabalho de Educação Indígena, Aldeli Alves Mendes Guerra. 

No curso universitário, os alunos são submetidos a debates teóricos e políticos, que buscam contribuir com a construção de propostas educacionais que respeitem e incluam projetos tocados pelas comunidades indígenas. Eles são incentivados a produzir materiais didáticos que contemplem os conhecimentos elaborados pelos indígenas e a diversidade linguística em que eles estão envolvidos. Eles também aprendem a buscar condições para o desenvolvimento de projetos de sustentabilidade econômica e de políticas de revitalização e manutenção das línguas e culturas indígenas. 

Leandro Lariwana Karajá se formou no curso de Licenciatura Intercultural é também professor do curso de Magistério Indígena. “É uma nova experiência pra mim. É a primeira vez que eu ministro aulas no magistério Indígena e é bom porque eu estou contribuindo para eles adquirirem mais conhecimento. Depois do início desse curso, melhorou muito a educação nas aldeias. Aqui os professores estão aprendendo a profissionalizar o ensino, aprendendo sobre planejamento, teoria e aprimorando as aulas”, explicou. 

Jacira Sekwahidi de Brito Xerente, que é aluna de Leandro, resumiu bem o sentimento de quem participa desse processo de revolução na qualidade de ensino nas aldeias. “Pra mim isso aqui é um passaporte pra tudo. Vou terminar esse curso aqui e buscar o melhor pra mim. Vou estudar e passar na faculdade federal ou no curso de Goiânia. É difícil porque eu tenho que deixar a família, mas para buscar conhecimento pra minha aldeia eu vou onde for preciso e faço o que for preciso”. 


Foto: Manoel Lima           Fonte: Ascom/Seduc           Postador: Gustavo Rocha

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Bonecas Karajá: Novo Patrimônio Cultural Brasileiro

25/01/2012
Votacao das Bonecas Karaja no Conselho Consultivo

Além de uma referência cultural nas aldeias indígenas, as Bonecas Karajá representam, muitas vezes, a única fonte de renda das famílias.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, nesta quarta-feira, dia 25 de janeiro, o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas Karajá como Patrimônio Cultural do Brasil. A proposta foi apresentada ao Iphan pelas lideranças indígenas das aldeias Buridina e Bdè-Burè, localizadas em Aruanã, Goiás - GO, e das aldeias Santa Isabel do Morro, Watau e Werebia, localizadas na Ilha do Bananal, Tocantins - TO, com anuência de membros das aldeias Buridina, Bdè-Burè e Santa Isabel do Morro. Para o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, Luiz Fernando de Almeida, comemorou o registro ressaltando o trabalho do Iphan de ampliar o número de bens protegidos em todo o país e de alterar a interpretação do que é patrimônio cultural. Para ele, o registro do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá “representa uma dimensão de reconhecimento como patrimônio a cultura de comunidades indígenas, como o povo Karajá, ainda pouco conhecida, mas que é fundamental dentro do processo de formação do nós somos, do povo brasileiro”. A coordenadora da Secretaria de Cultura Indígena, da Secretaria de Cultura do Estado de Tocantins, Narubia Karajá, acompanhou a reunião em Brasília e, muito emocionada, declarou aos conselheiros que “esta é um momento histórico para nós porque os senhores estão dizendo que nós (o povo Karajá) somos importantes para o Brasil”. 
projeto Bonecas Karajá: Arte, Memória e Identidade Indígena no Araguaia, iniciado em 2009, vem sendo supervisionado pelo Departamento de Patrimônio Imaterial – DPI/Iphan e coordenado pela Superintendência do Iphan em Goiás, que privilegiou o estudo dos aspectos imateriais das bonecas Karajá. As pesquisas para identificar e documentar o ofício, os modos de fazer e as formas de expressão que envolvem a produção das Bonecas Karajá foram realizadas com a comunidade nas aleias karajás Buridina Mahãdu e Bdé-Buré, em Aruanã - GO, e da aldeia de Santa Isabel do Morro, ou Hawalò Mahãdu, na Ilha do Bananal - TO. Durante o trabalho de quase dois anos, foram identificadas as matérias-primas, técnicas e etapas de confecção, além dos mitos e histórias narradas pelos Karajá que expressam a rica relação entre seu povo e o rio, a fauna e a flora, as relações sociais e familiares e a organização social. Toda essa complexidade cultural pode ser identificada nas cenas esculpidas em barro e ornadas com precisos traços em preto e vermelho das bonecas.
De acordo com o Departamento de Patrimônio Imaterial – DPI/Iphan, o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas Karajá são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. A confecção das figuras de cerâmicas – chamadas na língua nativa de ritxòkò (na fala feminina) e ritxòò (na fala masculina) – envolve técnicas tradicionais transmitidas de geração a geração. A atividade exclusiva das mulheres é desenvolvida com o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro – suù; a cinza, que funciona como antiplástico; e a água, que umedece a mistura do barro com a cinza.
Em regra geral, o modo de fazer ritxòkò segue cinco etapas: extração e preparação do barro, modelagem das figuras, queima e pintura, tudo isso envolvendo um repertório de saberes que se inicia na seleção e coleta do barro até a pintura e decoração das cerâmicas, que estão associadas à pintura corporal dos Karajá e a peças de vestuário e adorno tradicionais. Ao indicar gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam o Karajá homem ou mulher, jovem ou velho, solteiro ou casado, com todos os atributos que a cultura cria para distinguir convencionalmente essas categorias.
As bonecas Karajá e a expressão de uma identidadeMais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkò são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, reproduzindo o ordenamento sociocultural e familiar dos Karajá. Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá. Enquanto brincam com as bonecas ou observam a sua feitura, as meninas recebem importantes ensinamentos e aprendem também as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos. Por representarem cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, elas portam e articulam sistemas de significação da cultura Karajá e, dessa forma, são também lócus de produção e comunicação dos seus valores.
O processo criativo de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados. Também expressa a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para compra de materiais. Desta forma, as bonecas Karajá condensam e expressam importantes aspectos da identidade do grupo, além de simbolizar diversos planos de sua sociocosmologia.
Atualmente, as bonecas Karajá integram o acervo de vários museus no país, são procuradas como objetos de decoração e comercializadas junto a turistas e lojas de artesanato locais, regionais e nacionais. Entretanto, devem ser compreendidas além da sua expressão material, visto que, desde a sua confecção, desempenham um papel importante na reprodução cultural do povo Karajá. Desta forma, o DPI/Iphan pede a inscrição do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá no Livro dos Saberes e, ainda, a inscrição das Ritxòkò - Bonecas Karajá no Livro das Formas de Expressão, como patrimônio cultural brasileiro. O objetivo é estimular a sua produção entre as mulheres Karajá, possibilitando o crescimento das condições de autonomia das ceramistas frente às demandas externas e, ainda, fortalecer os mecanismos de reafirmação da identidade Karajá
O Conselho Consultivo do Patrimônio CulturalTambém está na pauta da reunião do Conselho Consultivo em Brasília a proposta de tombamento dos Centros Históricos de Manaus, no Amazonas, de Antonina, no Paraná, e das cidades piauienses de Oeiras e Piracuruca. O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro de bens do patrimônio cultural brasileiro, presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros de instituições como Ministério do Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia e Instituto Brasileiro de Museus – Ibram e da sociedade civil.
Serviço:Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Data: 25 e 26 de janeiro de 2012, de 10h30 às 18h
Local: Sede do Iphan - Sala do Comitê Gestor
          SEPS Quadra 713/913 – Bloco D – Asa Sul
          Brasília – DF.
Mais informaçõesAssessoria de Comunicação Iphan
comunicacao@iphan.gov.br
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
Mécia Menescal – mecia.menescal@iphan.gov.br
(61) 2024-5476 / 2024-5477
www.iphan.gov.br / www.twitter.com/IphanGovBr
Fonte: Ascom - Iphan/GO

sábado, 21 de janeiro de 2012

LITERATURA INDÍGENA EM REVISTA

A Revista Continente é uma publicação da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE). Por Luiz Arrais, superintendente de criação, fui convidado a ilustrar a capa e a respectiva matéria especial da edição #133, que trata da chamada literatura indígena.

A matéria, assinada pela jornalista Isabelle Câmara, destaca o crescente interesse por obras de autores indígenas no cenário editorial brasileiro. Diversos autores são lembrados, tais como Marcos Terena, Eliane Potiguara, Graça Graúna, Olívio Jekupé, Nhenety Kariri-xokó, Tkainã, Vãngri Kaingáng e outros. Há também uma entrevista com o escritor Daniel Munduruku, que expõe sua percepção sobre a literatura indígena e toda a sua diversidade étnico-cultural. Também dei uma palhinha sobre o tema. Quem puder, confira a Continente, uma publicação muito bem cuidada.






Tanto tradicionais quanto contemporâneas, ilustrei a matéria com estas as duas licocós acima, ou bonecas de barro feitas pelas mulheres Karajá. Uma delas lê. Enquanto a outra, digita em seu laptop. A identidade, manifesta nas formas, adereços e pintura corporal, dialoga com a contemporaneidade. Já para capa fiz um tributo ao povo Kambiwá, natural do sertão do Pernambuco (Ibimirim, Inajá, Floresta). Com seu paramento de palha de caroá, e maracás em punho, um índio participa do ritual do praiá. Do diadema, disposto feito uma boca, em vez de penas projetam-se línguas. Cada qual relacionada a uma família linguística indígena.

Postado por  no Blgo Feijão Preto

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Literatura Indígena

Kaká Werá

A literatura escrita por índios é relativamente nova no Brasil. Iniciou-se no principio dos anos de 1990. Isso não quer dizer que os índios não escreviam ou que não haviam aprendido os códigos de comunicação da sociedade que aqui aportou no século XVI. Os padres jesuítas ensinavam os guarani a ler e escrever desde essa época. O incoveniente é que eles usaram a educação como um método de desvalorizar a cultura ancestral. mas índios escreveram sobre medicina das ervas, sobre seus mitos e suas formas de pensar.
Os primeiros brasileiros á estudar no exterior foram os tupinambás, em 1556, quando foram fazer apresentações culturais na França. eram cerca de 50. desses, talvez entre cinco e dez ficaram por lá, estudando e aprendendo outra cultura.

Mas infelizmente tudo que existe escrito sobre índio até o início dos anos 90 ou foi uma visão de aventureiro, ou de etnólogo, antropólogo, sociólogo ou algum destes especialistas da academia. Isto não quer dizer que não buscaram refletir suas impressões ou estudos com seriedade. Tem muita coisa boa escrita sobre índio por especialistas não indígenas. mas tem muita coisa ruim também, e algumas viraram 'verdades" históricas; como a idéia de "indio comedor de gente', a idéia de índio arredio ao trabalho, que na verdade era erredio á escravidão, entre outras.

No início da década de noventa eu escrevi um livro chamada TODAS AS VEZES QUE DISSEMOS ADEUS e Daniel Munduruku escreveu um livro chamado COISAS DE ÍNDIO. De lá para cá, inúmeros escritores indígenas foram surgindo. Aliás, Daniel se tornou um grande incentivador não somente da literatura indígena, mas do surgimento de escritores indígenas. Estimulou através de promoção de encontros, da organização de entidade específica, da promoção de parcerias com editoras.
Hoje existem mais de trinta escritores indígenas em atividade, trazendo a expressão de seus pensamentos e de suas respectivas literaturas, colaborando para diminuir a distancia de entendimento de costumes, valores, mitologias, etc; entre a sociedade não indígena e os remanescentes das culturas ancestrais.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Educação indígena - Escola participa de projeto em MT para documentar língua

Estudantes e professores da Escola Indígena Central Ikpeng, na comunidade Moygu, em Feliz Natal, a 500 quilômetros de Cuiabá, estão envolvidos no projeto de documentação da língua icpengue, desenvolvido pelo Museu do Índio da Fundação Nacional do Índio (Funai). O trabalho faz parte do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas Brasileiras (Prodoclin), que integra o Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas Brasileiras (Progdoc) do Museu do Índio, em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

“O principal objetivo do Prodoclin é a documentação linguística, visando a fortalecer as línguas dos povos indígenas brasileiros, que estão ameaçadas, e também documentar as que estão se extinguindo”, explica Ingrid Lemos, pesquisadora do projeto. Segundo ela, dessa maneira os povos podem ter acesso a informações sobre sua língua, mesmo que ela não seja falada no dia a dia. “Temos povos com apenas três ou quatro falantes”, revela Ingrid. Artista e designer, ela trabalha na documentação audiovisual e em oficinas de ilustração e de ensino de softwares.

O trabalho com os icpengues é realizado desde 2009, na modalidade a distância, sob a coordenação da linguista Ângela Chagas. A equipe do projeto visita a aldeia uma vez por ano e lá permanece por um mês para ministrar as oficinas. De acordo com Ingrid, o trabalho na aldeia é conduzido por dois bolsistas, com a colaboração de integrantes da comunidade. “Entre eles, os anciãos, que trazem seu conhecimento ancestral, fundamental para o trabalho com a língua.”

Ingrid considera muito boa a receptividade ao trabalho, principalmente com a consolidação das visitas à aldeia e realização de minicurso de fonética e fonologia e de oficinas sobre a produção de obras e para discutir a ortografia da língua icpengue. “Ainda não temos nada impresso porque estamos no momento de revisão e planejamento gráfico do material”, diz. “De qualquer forma, essas produções não serão comercializadas; destinam-se principalmente ao povo icpengue.”

Tradição — A primeira obra do projeto, sobre histórias tradicionais, tem o nome ainda provisório de Wonkinom Mïran (mitos de origem). Ainda em fase de revisão, foi elaborada a partir da documentação em áudio e vídeo de histórias escolhidas pela comunidade. O material foi transcrito e traduzido pelos pesquisadores em softwares específicos. Além dessa primeira obra, estão em andamento uma de gramática e um dicionário bilíngue, ilustrado.

Os icpengues já têm sete livros publicados. Além desse projeto desenvolvido pelo Museu do Índio, eles trabalham em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e com o Projeto de Formação de Professores do Instituto Socioambiental. “Agora, estamos trabalhando com a Unemat para produzir livros de alfabetização na língua icpengue”, diz o diretor da Escola Indígena Central Ikpeng, Pomerquenpo Klemer Txicão.

A escola atende 340 alunos das séries finais do ensino fundamental (sexto ao nono ano). Os estudantes moram em uma aldeia a quatro quilômetros do prédio principal da escola, localizado no Posto Pavuru da Funai. A escola também tem salas anexas nas aldeias Caiabi e Trumai. Eles trabalham com projeto político-pedagógico específico, que contempla as ciências indígenas, além de conteúdo básico de matemática, português e geografia. As aulas são ministradas de manhã e à tarde.

Todos os professores da escola são indígenas, formados em cursos específicos da Faculdade Indígena Intercultural (FII) da Unemat e pelo projeto Haiyô, da Secretaria de Educação de Mato Grosso.


Fonte: Planeta Universitário