quarta-feira, 20 de junho de 2012

DECLARAÇÃO DA KARI-OCA 2 - RIO +20

“CONFERÊNCIA MUNDIAL DOS Povos Indígenas SOBRE RIO+20 e a Mãe TERRA” 13‐22 Junho 2012

Nós, os Povos Indígenas da Mãe Terra reunidos na sede da Kari-Oca I, sagrado Kari-Oka Púku, no Rio de Janeiro para participar da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, agradecemos aos Povos Indígenas do Brasil por nos darem o bem vindo aos seus territórios. Reafirmamos nossa responsabilidade para falar sobre a proteção e o bem-estar da Mãe Terra, da natureza e das futuras gerações de nossos Povos Indígenas e toda a humanidade e a vida. Reconhecemos o significado desta segunda convocatória dos Povos Indígenas do mundo
e reafirmamos a reunião histórica de 1992 da Kari-Oca I, onde os Povos Indígenas emitiram a Declaração da Kari-Oca e a Carta da Terra dos Povos Indígenas. A conferência da Kari-Oca e a mobilização dos Povos Indígenas durante a Reunião da Terra marcou um grande avanço do movimento internacional para os direitos dos Povos Indígenas e o papel importante que desempenhamos na conservação e no desenvolvimento sustentável. Reafirmamos também a
Declaração de Manaus sobre a convocatória da Kari-Oca 2 como o encontro internacional dos Povos Indígenas na Río+20.

A institucionalização do colonialismo
Consideramos que os objetivos da Conferência das Naciones Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) Río+20, a “Economia Verde” e seu argumento de que o mundo somente pode “salvar” a natureza com a mercantilizar de suas capacidades de dar vida e garantir a vida como uma continuação do colonialismo que os Povos Indígenas e nossa Mãe Terra tem resistido durante 520 anos. A “Economia Verde” se promete erradicar a pobreza, mas na realidade
somente vai favorecer e responder as empresas multinacionais e o capitalismo. Se trata da continuação de uma economia global baseada nos combustíveis fósseis, na destruição do meio ambiente mediante a exploração da natureza através das indústrias extrativistas, tais como a mineração, a extração e produção petrolífera, a agricultura intensiva de monoculturas e outras inversões capitalistas. Todos esses esforços estão encaminhados as ganâncias e a acumulação de
capital por uns poucos.

Desde Rio 1992, nós como Povos Indígenas vemos que o colonialismo está sendo transformado na base da globalização do comércio e da hegemonia econômíca capitalista mundial. Se vem intensificado a exploração e o roubo dos ecossistemas e biodiversidade do mundo, assim como a violação aos diretos inerentes dos povos indígenas. Nosso direito a livre determinação, a nossa própria governança e ao nosso desenvolvimento livremente determinado, nossos direitos inerentes as nossas terras, territórios e recursos estão cada vez mais atacados por uma colaboração de governos e empresas transnacionais. Ativistas e líderes indígenas que defendem seus territórios seguem sofrendo repressão, militarização, incluindo assassinatos, prisões, humilhações e classificação como “terroristas”. A violação de nossos direitos coletivos enfrenta a mesma impunidade. O deslocamento forçado ou assimilação ameaça nossas futuras gerações, culturas, idiomas, espiritualidade y relação com a Mãe Terra económica e políticamente.

Nós, povos indígenas de todas as regiões do mundo, temos defendido a Nossa Mãe Terra das agressões do desenvolvimento não sustentável e a super exploração de nossos recursos por mineração, madeireiras, grandes represas hidroelétricas, exploração e extração petrolífera. Nossos bosques sofrem pela produção de agrocombustíveis, biomasa, plantaçõess e outras imposições como as falsas soluções à mudança climática e ao desenvolvimento não sustentável e danoso. A Economía Verde é nada menos que o capitalismo da natureza; um esforço perverso das
grandes empresas, as indústrias extrativistas e dos governos para converter em dinheiro toda a Criação mediante a privatização, mercantilização e venda do Sagrado e todas as formas de vida, assim como o céu, incluindo o ar que respiramos, a água que bebemos e todos os genes, plantas, sementes nativas, árvores, animais, peixes, diversidade biológica e cultural, ecossistemas e conhecimentos tradicionais que fazem possivel e disfrutável a vida sobre a terra.
Violações graves dos direitos dos povos indígenas da soberania alimentar continuam sem parar ao que da lugar a inseguridade alimentar. Nossa própria produção de alimentos, as plantas que nos rodeiam, os animais que caçamos, nossos campos e as plantações, a água que bebemos e a água dos nossos campos, os peixes que pescamos de nossos rios e riachos, está diminuindo a um ritmo alarmante. Projetos de desenvolvimento não sustentável, tais como mono-culturas plantações de soja químicamente intensiva, as indústrias extrativistas como a mineração e outros projetos destrutivos do meio ambiente e as inversões com fins de lucro, estão destruindo nossa biodiversidade, envenenando nossa água, nossos rios, riachos, e a terra e sua capacidade para manter a vida. Isto se agrava ainda mais debido ao cambio climático e as represas hidroeléctricas e outras formas de produção de energia que afetam a todo o ecossistema e sua capacidade para promover a vida. A soberania alimentaria é uma expressão fundamental de nossos direitos coletivo a livre determinação e desenvolvimento sustentável. A soberania alimentar e o direito a alimentação devem ser reconhecidos e respeitados: alimentação não deve ser mercadoria que se utiliza, comercializa ou especula com fins de lucro. Nutre nossas identidades, nossas culturas e idiomas, e nossa capacidade para sobreviver como povos indígenas.

A Mãe Terra é a fonte da vida que se requer proteger, não como um recurso para ser explorado e mercantilizado como “capital natural”. Temos nosso lugar e nossas responsabilidades dentro da ordem sagrada da Criação. Sentimos a alegria sustentadora quando as coisas ocorrem em harmonia com a Terra e com toda a vida que cria e sustenta. Sentimos a dor da falta de harmonia quando somos testemunho da desonra da ordem natural da Criação e da colonização econômica e
continua, assim como a degradação da Madre Terra e toda a vida nela. Até que os direitos dos povos indígenas sejam observados, velados e respeitados, o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza não ocorrerão.

A solução
A relação inseparável entre os seres humanos e a Terra, inerente para os povos indígenas deve ser respeitada pelo bem das gerações futuras e toda a humanidade. Instamos a toda a humanidade a se unir conosco para transformar as estruturas sociais, as instituições e relações de poder que são a base de nossa pobreza, opressão e exploração. A globalização imperialista explora todo o que garante a vida e a terra. Necessitamos reorientar totalmente a produção e o consumo na base das necessidades humanas no lugar da acumulação desenfreada de ganância para com poucos. A
sociedade deve tomar controle coletivo dos recursos produtivos para satisfazer as necessidades de desenvolvimento social sustentável e evitar a sobreprodução, o sobreconsumo e a sobreexploração das pessoas e da natureza que são inevitáveis abaixo o atual sistema capitalista monopólico. Devemos enfocar sobre comunidades sustentáveis com base nos conhecimentos indígenas e no desenvolvimento capitalista.

Exigimos que as Nações Unidas, os governos e as empresas abandonem as falsas soluções a mudança climática, tais como as grandes represas hidroelétricas, os organismos geneticamente modificados, incluindo as árvores transgênicas, as plantações, os agro combustíveis, o “carbono limpo”, a energia nuclear, o gás natural, a transposição das águas dos rios, a nanotecnologia, a biologia sintética, a bio energia, a biomassa, o biochar, a geoengenharia, os mercados de
carbono, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e REDD+ que colocam em perigo o futuro e a vida tal como a conhecemos. No lugar de ajudar a reduzir o aquecimento global, eles envenenam e destroem o meio ambiente e deixam que a crise climática aumente exponencialmente, o que pode deixar o planeta praticamente inabitável. Não podemos permitir que as falsas soluções destruam o equilíbrio da Terra, assassinem as estações, desencadeiem o caos do mal tempo, privatizem a vida e ameacem a supervivência da humanidade. A Economia Verde é um crime de lese humanidade e contra a Terra.

Para lograr o desenvolvimento sustentável os Estados devem reconhecer os sistemas tradicionais de manejo de recursos dos povos indígenas que há existido por milênios, nos sustentando assim durante o colonialismo. È fundamental garantir a participação ativa dos povos indígenas nos processos de tomada de decisões que os afetam e seu direito ao consentimento livre, prévio e informado. Os Estados também devem proporcionar apoio aos povos indígenas que seja
adequada a sua sustentabilidade e prioridades livremente determinadas, sem restrições e diretrizes limitantes.

Seguiremos lutando contra a construção de represas hidrelétricas e todas as formas de produção de energia que afetam nossas águas, nossos peixes, nossa biodiversidade e os ecossistemas que contribuem com a nossa soberania alimentar. Trabalharemos para preservar nossos territórios contra o veneno das plantações de monoculturas, das indústrias extrativas e outros projetos destrutivos do meio ambiente, e continuar nossas formas de vida, preservando nossas culturas e identidades. Trabalharemos para preservar nossas plantas e as sementes tradicionais, e manter o equilíbrio entre nossas necessidades e as necessidades de nossa Mãe Terra e sua capacidade de garantir a vida. Demonstraremos ao mundo que se pode e se deve fazer. Em todos estes assuntos documentaremos y organizaremos a solidariedade de todos os povos indígenas de todas as partes do mundo, e todas as demais fontes de solidariedade dos não indígenas de boa vontade a se unir a nossa luta pela soberania alimentar e a seguridade alimentaria. Rejeitamos a privatização e o controle corporativo dos recursos, tais como nossas sementes tradicionais e dos alimentos. Por último, exigimos aos estados que defenda nossos direitos ao controle dos sistemas de gestões tradicionais e ofereça um apoio concreto, tais como as tecnologias adequadas para que possamos defender nossa soberania alimentar.

Rejeitamos as promessas falsas do desenvolvimento sustentável e soluções ao cambio climático que somente serve a ordem econômica dominante. Rejeitamos a REDD, REDD+ e outras soluções baseadas no mercado que têm como enfoque nossos bosques, para continuar violando nossos direitos inerentes a livre determinação e ao direito as nossas terras, territórios, águas e recursos, e direito da Terra a criar e manter a vida. Não existe tal coisa como “mineração
sustentável”. Não existe tal coisa como “petróleo ético”.

Rejeitamos a aplicação de direitos de propriedade intelectual sobre os recursos genéticos e o conhecimento tradicional dos povos indígenas que resulta na privatização e mercantilização do Sagrado essencial para nossas vidas e culturas. Rejeitamos as formas industriais da produção alimentícia que promove o uso de agrotóxicos, sementes e organismos transgênicos. Portanto, afirmamos nosso direito a ter, controlar, proteger e herdeiros as sementes nativas, plantas
medicinais e os conhecimentos tradicionais provenientes de nossas terras e territórios para o beneficio de nossas futuras gerações.

Nosso Compromisso com o Futuro que Queremos
Por falta da falta da implementação verdadeira do desenvolvimento sustentável o mundo está em múltiplas crises ecológicas, econômicas y climáticas. Incluindo a perda de biodiversidade, desertificação, o derretimento dos glaciares, escassez de alimentos, água e energia, uma recessão econômica mundial que se acentua, a instabilidade social e a crise de valores. Nesse sentido, reconhecemos que temos muito fazer para que os acordos internacionais respondam
adequadamente aos direitos e necessidades dos povos indígenas. As contribuições atuais potenciais de nossos povos devem ser reconhecidas como um desenvolvimento sustentável verdadeiro para nossas comunidades que permita que cada um de nós alcance o Bem Viver.

Como povos, reafirmamos nosso direito a livre determinação a controlar e manejar nossas terras e territórios tradicionais, águas e outros recursos. Nossas terras e territórios são a parte estrutural de nossa existência – somos a Terra a Terra, é nós -. Temos uma relação espiritual e material com nossas terras e territórios e estão intrinsecamente ligados a nossa supervivência e a preservassem e desenvolvimento de nossos sistemas de conhecimentos e culturas, a conservação, uso sustentável da biodiversidade e o manejo de ecossistemas.

Exerceremos o direito a determinar e estabelecer nossas prioridades e estratégias de auto desenvolvimento para o uso de nossas terras, territórios e outros recursos. Exigimos que o consentimento livre, prévio e informado seja o princípio de aprovação ou desaprovação definitivo y vinculante de qualquer plano, projeto ou atividade que afete nossas terras, territórios e outros recursos. Sem o direito ao consentimento livre, prévio e informado o modelo colonialista, o domínio da Terra e seus recursos seguirá com a mesma impunidade.

Seguiremos nos unindo como povos indígenas e construindo una solidariedade e aliança forte entre nós mesmos, comunidades locais e verdadeiros promotores não-indígenas de nossos temas. Esta solidariedade avançará a campanha mundial para os direitos dos povos indígenas a sua terra, vida e recursos e o lugar de nossa livre determinação e liberação. Seguiremos desafiando e resistindo aos modelos colonialistas e capitalistas que promovem a dominação da natureza, o crescimento econômico desenfreado, a extração de recursos sem limite para ganâncias, o consumo e a produção insustentável e as acordos não regulamentados e os mercados financeiros. Os seres humanos são uma parte integral do mundo natural e todos os direitos humanos, incluindo os direitos dos povos indígenas, devem ser respeitados e observados por o desenvolvimento.

Convidamos a toda a sociedade civil a proteger e promover nossos direitos e cosmovisões e respeitar a lei da natureza, nossas espiritualidades e culturas e nossos valores de reciprocidade, Harmonia com a natureza, a solidariedade e a coletividade. Valores como cuidar o compartilhar, entre outros, são cruciais para criar um mundo más justo, equitativo e sustentável. Neste contexto, fazemos um chamado para inclusão da cultura como o quarto pilar do desenvolvimento
sustentável.

O reconhecimento jurídico e a proteção dos direitos dos povos indígenas da terra, dos territórios,dos recursos e os conhecimentos tradicionais deveriam ser um requisito para o desenvolvimento e planificação de todos e cada um dos tipos de adaptação e mitigação da mudança climática, conservação ambiental (incluindo a criação de “áreas protegidas”), o uso sustentável da biodiversidade e medidas a combater desertificação. Em todos os casos, tem que
haver consentimento livre, prévio e informado.

Continuamos dando seguimento aos compromissos assumidos na Reunião da Terra tal como se reflete nesta declaração política. Fazemos um chamado a ONU a começar sua implementação, e assegurar a participação plena, formal e efetiva dos povos indígenas em todos os processos e atividades da Conferência de Rio+20 e mais além, de acordo com a Declaração das Nações Unidas sobe os Direitos dos Povos Indígenas (DNUDPI) e o principio do consentimento livre,
prévio e informado (CLPI). Seguimos habitando e mantendo os últimos ecossistemas sustentáveis com as mais altas concentrações de biodiversidade no mundo. Podemos contribuir de uma maneira significativa ao desenvolvimento sustentável porém acreditamos que o marco holístico de ecossistemas para o desenvolvimento se deve promover. isso inclui a integração do enfoque de direitos humanos, o enfoque de ecossistemas e enfoques culturalmente sensíveis e
baseados em conhecimentos.

Expressamos nossa solidariedade e apoio para as demandas e aspirações dos povos indígenas no Brasil encontradas no anexo a esta declaração.

“Caminhamos para o futuro nos rastros de nossos antepassados”.

Aprovado por aclamação, Aldeia de Kari-Oca, no Sagrado Kari-Oca Púku, Rio de Janeiro, Brasil, 18 de junho de 2012


http://indigenous4motherearthrioplus20.org/kari-oca-2-declaration/

SEMINÁRIO SOBRE BIOPIRATARIA NA CÚPULA DOS POVOS Com a presença de VANDANA SHIVA e AILTON KRENAK

21 de junho às 11 da manhã, Tienda 32 ‘Thomas Sankara’, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro





No marco da Cúpula dos Povos, que acontecerá paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) Rio+20 no fim de junho 2012, o Colectivo quer se mobilizar para informar sobre o perigro que é a biopirataria.: a biopirataria é a apropiação ilegítima dos recursos biológicos e dos conhecimentos tradicionais associados. Os biopiratas são principalmente empresas farmacêuticas, agroalimentares ou cosméticas: elas exploram a biodiversidade para produzir produtos supostamente “inovadores” garantindo seu monopólio a partir das patentes, sem repeto pelos povos nem o meio ambiente.

Estarão presentes líderes dos movimentos ecológicos mobilizados contra a apropiação dos recursos naturais e representantes dos povos indígenas ameaçados pela biopirataria
O objetivo do seminário é de trocar ideias, informa-se, debater e procurar alternativas concretas à biopirataria : vamos então apresentar estudos de casos sobre modelos alternativos à biopirataria, ferramentas de empoderamiento das comunidades, assim como métodos de proteção e valorização dos conhecimentos tradicionais.


O coletivo conta com a sua presença para enriquecer a rede internacional mobilizada para a proteção dos recursos naturais e dos conhecimentos tradicionais, e para desenvolver alternativas face a essas práticas ilegítimas.
A gente lhe espera !

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Diálogos Intergeracionais sobre Sustentabilidade na RIO +20







































Amanhã, 19 de junho, às 11h, acontecerá os Diálogos Intergeracionais sobre Sustentabilidade com Marina Silva, Edgar Morin, Ailton Krenak, Regina Chaves, Oded Grajew, Heloisa Helena, Lucas Campodonico, Maria Alice Setubal, Ivan Pascaud, Edith Sizoo, Jamie Henn, Fernanda Kaingang e Xiuhtezcatl Martinez.

Será um momento único na Rio+20 que reunirá um século de histórias de pessoas que tem dedicado suas vidas para transformar a realidade em uma planeta sustentável. As histórias serão contadas na Plenária 5 da Cúpula dos Povos (Aterro do Flamengo).

Não perca este momento de inspiração!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Encontro com a Parteira Indígena Francisquinha das Chagas

O Instituto UKA - Casa dos Saberes Ancestrais, recomenda esta maravilhosa oportunidade de entrar em contato com um pouco da sabedoria ancestral indígena no que se refere a função tradicional da parteira.





































terça-feira, 12 de junho de 2012

Duzentas línguas mais português: a literatura indígena nas escolas


Nossos povos indígenas constroem a escrita em suas línguas: para eles, verter a cultura oral em palavras significa representar séculos ou milênios de tradição. O resultado é muito material de qualidade que merece espaço nas salas de aula, como conta a seguir uma testemunha deste esforço, a antropóloga Betty Mindlin.

Imagem extraída do DVD que acompanha o livro "As Histórias do Clã Gapgir ey e o Mito do Gavião Real"

Por Betty Mindlin*

Os índios conquistaram muito espaço na literatura e no cinema nos últimos anos, em produções de alta qualidade. A tradição oral de nossos 200 povos e línguas – o número é aproximado, sempre outros são descobertos – passa agora a versões escritas, bilíngues ou em português; são de autoria indígena, ou conjunta com estudiosos. O MEC publicou a partir dos anos 1990 mais de cem livros de todos os cantos do país, resultado de programas de formação de professores indígenas, com belas ilustrações. Há escritores indígenas independentes, bastante conhecidos, que se unem em associações; surgem livros produzidos por grupos de narradores orais que não escrevem, nem falam português, mas são traduzidos pelos mais jovens. Grandes exemplos são livros bilíngues como Shenipabu Miyui – História dos antigos (autoria coletiva da Organização dos Professores Indígenas do Acre, 2ª edição revista, Editora UFMG, 2000) e Wamrêmé Za’ra – Nossa Palavra: Mito e História do Povo Xavante (Senac São Paulo, 1998). Felizmente, cada vez mais há material de qualidade para os professores brasileiros se aventurarem.
Nem sempre, porém, foi assim. Há três ou quatro décadas, quando comecei a minha experiência com índios na Amazônia, fazia-se prioritário demarcar as suas terras – as mesmas onde vivem há séculos e que ainda hoje (ou, talvez, principalmente hoje) permanecem ameaçadas por invasores e grandes interesses econômicos. Desde o primeiro contato, fiquei maravilhada ao ver como viviam e perceber o sentido que imprimiam à existência. Dediquei boa parte desses anos à defesa dos seus direitos e fui acolhida como membro das comunidades pelas quais passei, sempre cercada de afeto e generosidade.
Logo percebi que os mitos que ouvia, grandiosas narrativas povoadas pelos feitos e histórias de cada nação indígena, eram uma literatura que saía elaborada, pronta, da voz das mulheres e homens mais velhos, nascidos antes do contato pacífico com as cidades. Eram tão artísticos como a melhor literatura brasileira impressa, e eu era a única, ou a primeira, a ouvi-las. Senti-me na obrigação de compartilhar essa beleza rara com leitores; fizemos juntos, então, vários livros: eu gravava nas línguas, transcrevia e traduzia em cada língua – e a escrita era minha; hoje, os professores indígenas passam a escrever eles próprios, em suas línguas e em português.

Imagem extraída do DVD que acompanha o livro "As Histórias do Clã Gapgir ey e o Mito do Gavião Real"

Vozes da origem, que teve a primeira edição pela Editora Ática, em 1996 (e foi reeditado pela Record em 2006, com bonitas fotografias), é expressão desse processo. Reuni nele a tradição dos Suruí Paiter de Rondônia, que me foi contada ao longo de vários anos pelos narradores mais velhos do povo. Uma década mais tarde, a antologia Mitos indígenas (Editora Ática) trilhou o mesmo caminho, em mergulho cultural profundo pelas sagas de dez povos cujos narradores, embora não escrevam, recebem direitos autorais – e, desta forma, são legitimados como autores e senhores de suas histórias.
Penetrar no mundo indígena exige esforço por parte dos professores. Os mitos e o imaginário são um bom começo, pois as crianças não têm os mesmos preconceitos que os adultos e se deixam enredar por conteúdos inusitados como a criação do mundo, cabeças que voam e seres encantados. Além da literatura, é preciso também reunir informações sobre as condições de vida dos índios – nisto, pode ajudar um livrinho que publiquei em coautoria com Fernando Portela chamado A questão do índio (Editora Ática, 2004). Mas existem muitos outros, e sites completos, como o do ISA – Instituto Socioambiental, que indica bibliografia, mapas, nomes dos povos, população, direitos.
Recomendo também aos professores que, além de lerem todos os livros sobre o tema que lhes caiam nas mãos, vejam os magníficos filmes lançados há pouco. Destaco especialmente Xingu, de Cao Hamburger, que retoma a heroica jornada dos Irmãos Villas Bôas para preservar a vida e as terras de povos que estavam sendo expulsos e massacrados no Brasil central. Alcançaram em 1961, com muita luta, a criação do Parque Nacional do Xingu, hoje denominado Terra Indígena do Xingu. Cao transmite com maestria a beleza do mundo indígena, a imperiosa necessidade de compreender e manter a diferença de modos de vida. Assim, vibra no filme, a todo instante, o desejo intenso de justiça social: o coração dos espectadores bate disparado, na emoção de juntar-se aos índios para que a humanidade não perca o que têm a nos ensinar.
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As imagens que ilustram este post foram extraídas do DVD que acompanha o livro As Histórias do Clã Gapgir ey e o Mito do Gavião Real (Gapgir ey Xagah: Amõ Gapgir ey Iway Amõ Anar Segah ayap mi Materet ey mame Ikõr Nih), de 2011, cujas histórias foram narradas por Gakamam Paiter Suruí e outros coautores, transcritas e traduzidas pelos mais jovens de seu povo. O trabalho, produzido com o apoio de diversas entidades, teve a assessoria de Ana Suelly Cabral, linguista do LALI – Laboratório de Línguas Indígenas da UnB.

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*Betty Mindlin é economista e antropóloga. A partir do doutorado em Ciências Sociais na PUC-SP (1977-1984), começou sua longa trajetória de pesquisa e defesa das questões indígenas, que resultou na publicação, no Brasil e no exterior, de diversas antologias de mitos indígenas. No IEA – Instituto de Estudos Avançados da USP e no IAMÁ – Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, Betty participou de projetos sobre cultura, educação e saúde dos povos indígenas. Em 2002, recebeu a medalha de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Fonte: http://blog.aticascipione.com.br/leitura-literatura/duzentas-linguas-mais-portugues-a-literatura-indigena-nas-escolas

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dia do índio?

19/04/2012 - No Dia do Índio, o Brasil das Gerais faz uma homenagem aos povos indígenas. Roberta Zampetti discute a realidade das comunidades, brigas por terras e como os povos mantêm a cultura viva. Para conversar sobre o assunto, participam do programa o coordenador da Rede Povos da Floresta, Ailton Krenak, a estudante de medicina Danielle Kambeba e o pesquisador indígena Bartolomeu Pankarau.



D-21 - Povos indígenas e práticas de ensino no Brasil

Programa da disciplina D21, Conteúdos e Didática da História, do Curso de Pedagogia Unesp/Univesp: De que maneira a história dos povos indígenas é tratada na História da civilização? O programa debate essa questão ao mesmo tempo em que mostra como o artigo 210 da Constituição de 1988 obriga a discussão sobre a diversidade étnico-cultural do país, ajudou na criação de escolas indígenas. A experiência da aldeia indígena Tenondeporã , onde em 2001 foi implantada a Escola Estadual Indígena Gwyra Pepó é exemplo e fio condutor do programa.

 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Escritor Munduruku participa do projeto “Aventuras Literárias”


O escritor Daniel Munduruku participa nesta terça-feira (5), às 15 horas, do projeto “Aventuras Literárias”, um bate-papo com o público infantojuvenil. O escritor é da tribo indígena Munduruku e nasceu em Belém (PA). É formado em filosofia e integrou o programa de pós-graduação em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP).

Daniel esteve em vários países da Europa, atuando em conferências e ministrando oficinas culturais para crianças. É autor de Histórias de índio, Coisas de índio e As Serpentes que Roubaram a Noite. Seu livro Meu avô Apolinário foi escolhido pela Unesco para receber menção honrosa no Prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão da Tolerância.

O projeto “Aventuras Literárias” é uma iniciativa da Seção Infantil da BPP, que traz mensalmente um escritor para conversar com crianças e adolescentes sobre literatura.

Serviço:

Aventuras Literárias, Daniel Munduruku

Dia 5 de junho, às 15h

Auditório Paul Garfunkel – Biblioteca Pública do Paraná

Entrada grátis.
Áudio:

Povo Guarani da região de Parelheiros / SP sofrem atentados a bala por proprietários ilegais da região




No dia 19 de Abril de 2012, saiu no Diário Oficial da União a publicação da ampliação das terras guaranis na região de Parelheiros em São Paulo, de apenas 20 hectares para 15.969 hectares de terra. Uma conquista comemorada no dia 19 de Abril com muita emoção pelos guaranis das aldeias Krucutu e Tenonde Porã.

Porém , desde então, os índios daquela região vem sofrendo ameaças por parte dos proprietários de terras griladas da região que, mesmo estando em situação irregular, não pretendem desocupar as terras que agora pertencem oficialmente ao povo guarani m'bya.
Logo na semana seguinte, homens desconhecidos estiveram na região da aldeia Tenonde Porã e alertaram à alguns índios que ali estavam conversando, que esta situação não iria ficar assim. Se retiraram e logo começaram os atentados.

Carros ocupados com homens desconhecidos rondam as dependências das aldeias sempre no final da tarde e inicio da noite, observando o movimento das aldeias e olhando para os jovens e crianças de forma ameaçadora.

No domingo dia 27 de maio, homens desconhecidos apontaram armas de fogo para um jovem guarani que colhia lenha no final da tarde. Na sexta-feira dia 1° de junho, dois jovens guaranis sobreviveram a um ataque com armas de fogo, onde dois carros com 3 pessoas cada um pararam diante dos jovens e dispararam 4 tiros contra os jovens que se jogaram na mata se escondendo atras de uma árvore. No ultimo Sábado, dia 2 de junho, um carro preto com 4 homens armados foi visto rondando a região.

Eu vim buscar alguns documentos aqui quando vi o carro. Ele passou devagar. Tinha 4 pessoas dentro. Eram homens. Olhavam pra aldeia como se procurassem alguem. Depois parou, ficou um tempo parado, depois seguiu devagar e foi embora. As pessoas do carro ficavam olhando pra aldeia o tempo todo como se procurasse alguém. Eu achei muito estranho." Contou uma moça, funcionária do CECI Tenonde Porã, cujo nome deve ser preservado por questão de segurança a pedido da mesma e do cacique da aldeia.

O cacique da aldeia conta que logo após a oficialização da ampliação das terras, iniciaram-se as ameaças, as repressões e os atentados. O principal alvo dos pistoleiros são as crianças de 9 à 16 anos que saem de suas casas no final da tarde pra colher lenha. O medo se instalou por toda a aldeia.

"outro dia veio um senhor aqui dono de um desses sitios que fica por aqui, veio com mais dois e disse que vai matar os indios e que não vai sair da terra por que a terra é dele. Eu me preocupo pelos jovens por que eles atacam sempre quando eles vão buscar lenha no finalzinho da tarde."


Ao que consta em documentações, das 12 propriedades da região, apenas 3 tem escritura legalizada e esta em situação regular. Todas as outras estão em situação ilegal e terão que sair do local sem direito a indenização.

O cacique da aldeia juntamente com as demais lideranças vão elaborar um documento detalhado sobre a situação que permeia a região e coloca em grave risco os indígenas residentes, com um pedido de proteção policial e encaminhará ao ministério publico e policia federal.