quinta-feira, 23 de maio de 2013

‘Não existem índios no Brasil’, diz escritor em abertura de congresso - G1 Notícias

Repercussão da fala do nosso Presidente Daniel Munduruku, no X Congresso Nacional do Meio Ambiente em Poços de Caldas.

Esperamos que gostem. 

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Para ele, a palavra ‘índio’ surgiu de maneira equivocada e reduz os povos.

Autor de 43 livros, Daniel Munduruku abriu o evento em Poços de Caldas.


Jéssica BalbinoDo G1 Sul de Minas
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Daniel Munduruku é autor de 43 livros e falou durante abertura de Congresso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Daniel Munduruku é autor de 43 livros e falou durante abertura de Congresso (Foto: Jéssica Balbino/ G1)

























Autor de 43 livros, o indígena Daniel Munduruku foi o palestrante convidado para a abertura do 10º Congresso do Meio Ambiente em Poços de Caldas (MG) nesta quarta-feira (22). O índio, que é doutor em educação e cursa pós-doutorado em literatura na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), falou sobre a ‘Mãe Terra e a Questão Indígena’  durante um bate-papo com os congressistas.
Em uma saudação na língua do povo ao qual pertence, abriu a fala e brincando, pediu licença a quem estava no ambiente. “Bom dia a todos os amigos aqui presentes, espero que este encontro seja tão bom para vocês como vai ser para mim”, saudou, em uma referência aos ancestrais. “Nossos avós diziam que quando vamos encontrar alguém, temos que ir com o coração aberto e alegre para que o encontro seja bom, desejando que as pessoas que estão no lugar se sintam da mesma forma”, pontuou, ao lembrar que estar conectado com o meio ambiente é estar conectado com a poesia do universo.
A luta pelo meio ambiente é a luta de todo povo brasileiro"
Daniel Munduruku

escritor e doutor
 “Vou falar de outras tantas coisas que não são meio ambiente, mas também são. Quero olhar nos olhos e conversar. Para começar, vou destacar que não sou índio e que não existem índios no Brasil. O que existem são povos. Eu sou Munduruku e pertencer a um povo é ter participação dentro de uma tradição ancestral brasileira. Quando eu digo que não existem índios, quero dizer que existe uma diversidade muito grande de ancestralidade. São pelo menos 250 povos indígenas e são faladas pelo menos 180 línguas no Brasil”, disse.
Para ele, a palavra ‘índio’ surgiu de maneira equivocada e reduz os povos. “Está ligada a uma série de conceitos e pré-conceitos. Normalmente ela está vinculada a coisas negativas, embora haja muito romantismo na história, a maioria do pensamento quer dizer que o  índio é um ser fora de moda, atrasado no tempo e selvagem. Alguém que está atrapalhando o progresso e continuamos reproduzindo um estereótipo que foi sendo passado ao longo da nossa história”, criticou."
Público vindo de várias partes do Brasil debateu durante palestra (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Público vindo de várias partes do Brasil debateu
durante palestra (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
O bate-papo foi permeado por lembranças do indígena, que contou histórias sobre a própria vida, a fase de transição entre infância e adolescência e a perda do avô, que segundo ele, na tradição Munduruku, é quem transmite os ensinamentos dentro de uma família ou tribo. Com isso, ele chegou à dúvida dos presentes que era: como começou a escrever e se tornou acadêmico. “Quando meu avô morreu, me fez entender o que era ser Munduruku e eu sempre quis lembrar dele assim. Queria ser como ele, um contador de histórias. Demorei para saber como seria meu caminho, se seria na tribo ou na cidade, mas optei pela cidade e pela vida acadêmica e hoje estou aqui,  transmitindo estas histórias que são tão cheias de sabedoria de vida e de meio ambiente”, pontuou.
Em relação ao meio ambiente e aos questionamentos feitos pelo público, o indígena destacou a questão da evolução humana e no Brasil a construção de barragens. “O povo Munduruku está sofrendo com a construção das barragens, seja em Belomonte, seja em Rondônia, enfim, eles estão lutando para viver. A natureza e o ambiente que os índios vivem fazem parte da humanidade deles. Eles lutam para se manterem e lutam por um Brasil inteiro que não tem a consciência de perceber isso. A luta pelo meio ambiente é a luta de todo povo brasileiro”, finalizou.



Fonte: G1 Notícias

10° EEAI - Encontro de Escritores e Artistas Indígenas - 12 de Junho de 2013

Prezados\as já começaram os preparativos para o 10 ° EEAI - Encontro de Escritores e Artistas Indígenas.
Confira a programação que preparamos para vocês comemorarem conosco uma década de EEAI.

Divulgue em sua rede.

Esperamos por você, traga sua família.
Xipat Oboré















Mais informações: http://www.facebook.com/nearin.inbrapi

sábado, 18 de maio de 2013


Você "falar" minha língua?

Estava eu numa cerimônia política em que se discutiria a implantação de políticas públicas para os indígenas da cidade de São Paulo. Eu havia sido convidado, junto com os parentes guarani da capital, para fazermos parte daquele evento. Eu coloquei um blazer bem confortável, pois fazia frio. Enfeitei minha cabeça com um belo cocar que havia trazido de minha aldeia dias antes. Aproveitei que os parentes guarani estavam todos pintados com sua marca tradicional e fiz em mim uma pintura característica de meu povo. Assim me apresentei. A cerimônia correu uma maravilha e todos estávamos relativamente contentes com o desfecho e a hora era de comemoração pela conquista alcançada. E foi aí que aconteceu uma cena muito surreal, coisa que se contarem a gente não acredita. Vou contar, pois a vivi. Olívio Jekupé, escritor Guarani, e eu nos postamos de pé para observar o movimento que aquela hora estava bastante frenético. No palco do evento algumas atrações se revezavam mostrando a diversidade de manifestações culturais. Eram grupos do movimento negro, de culturas populares, ciganos, entre outros. Ficamos ali meio encolhidos e por conta do frio cruzei meus braços numa pose a lá touro sentado. Fiquei assim imperturbável por alguns minutos até que me dei conta que à minha frente estava postada uma senhora que me observava com cara de quem não estava entendendo nada. Me olhava como se mirasse uma escultura grega de carne e osso. Quando dei por mim e percebi a situação, fiz uma cara bem sisuda, minha melhor cara de mau e a fitei. Ela levou tamanho susto que deu um passo para trás. Depois foi se achegando até que criou coragem para falar. - Você fala a minha língua? Não estranhei a pergunta. Afinal, neste trabalho que desenvolvo há muito anos, aprendi não estranhar nada especialmente quando a pergunta é feita por crianças. Mas neste caso, balancei. E resolvi não responder. Pior que isso: ignorei como se não fosse comigo. Permaneci ali, de pé e com os braços cruzados exercitando minha fama de mau. A senhora continuava postada à minha frente. Não arredou pé e também não demorou muito para que meus amigos que estavam por perto se aproximassem ainda mais para ver o desenrolar da cena. Alguns já até riam tentando adivinhar o desfecho. De repente, a senhora – que não devia ter mais de um metro e meio de altura e tinha cabelos vermelhos – voltou ao “ataque” falando um pouco mais alto, mais lento e acompanhada de mímica. - Você fala a minha língua? Tive que fazer um esforço danado para não soltar uma sonora gargalhada. A cena era muito cômica e os parentes indígenas já não se aguentavam mais. Mesmo Olívio – que sabia o que eu estava pretendendo – não interferiu e deixou rolar. Para variar fiquei imóvel diante da pequena senhora que continuava sem acreditar que estava diante de um “selvagem” que sequer sabia se articular em português. Mas ela precisava tirar a prova dos nove. - Você falar [gestos, mímicas, trejeitos bocais] minha língua? Nessa altura ninguém mais se aguentava. Sequer acreditavam naquilo acontecendo. Vendo que não conseguia arrancar de mim uma única palavra em português, a nobre senhora apenas virou-se para o Olívio Jekupé e disse: - Acho que ele não ouve direito. E foi embora sem esperar nenhuma explicação.

Xipat Oboré!

Daniel Munduruku
www.danielmunduruku.blogspot.com

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Colóquio sobre literatura indígena acontece na UFSCar

De 8 a 11 de maio, acontece na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) o "II Caxiri na Cuia: Colóquios com a Literatura Indígena". Com o objetivo de ampliar o debate a respeito da literatura e da cultura indígena na Universidade e também entre professores dos ensinos Fundamental e Médio, será abordado o tema "Oralidade, escrita e filmografia indígena brasileira: construindo diálogos". O mesmo evento envolve o "I Encontro sobre literatura e cultura indígena no currículo escolar".
Todos os interessados em refletir sobre os caminhos da literatura indígena nos dias atuais estão convidados a participar. O Colóquio, que também tem como objetivo celebrar a resistência da memória indígena, contará com convidados locais, como professores e estudantes indígenas de graduação e pós-graduação de diversos cursos da UFSCar, além de convidados nacionais e internacionais, como líderes indígenas, escritores, jornalistas, poetas, cineastas, músicos e pesquisadores.

A programação conta com mesas de debates que irão discutir temas como a literatura indígena, sua oralidade e escrita, além da importância dessa literatura e da cultura indígena no ensino de primeiro, segundo e terceiro graus. A relação entre a literatura indígena brasileira com a chamada literatura Mapuche, escrita indígena chilena, também será abordada.

Visando apresentar o modo como os indígenas têm buscado atualizar a memória ancestral pelo domínio das tecnologias ocidentais, com foco na produção de filmes feitos por eles, a filmografia indígena também fará parte do "II Caxiri na Cuia". Um Sarau Musical com a participação dos convidados e também de graduandos indígenas da UFSCar fará parte da programação.

As atividades do "II Caxiri na Cuia: Colóquios com a Literatura Indígena", acontecem na UFSCar e no SESC Ribeirão Preto, onde, além de uma mesa de discussão, também será lançada a exposição "Daniel Munduruku e Outras Gentes", que aborda a literatura indígena produzida por diferentes povos e que vem sendo protagonizada pelo escritor Daniel Munduruku, aluno do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura (PPGLit) da UFSCar. Utilizando-se de recursos cenográficos, tecnológicos e elementos lúdicos, a exposição apresenta a vida e a obra de Daniel e coloca o visitante em contato direto com os temas abordados pelo autor que, como um autêntico representante das sociedades indígenas brasileiras, faz lembrar, por meio da exposição, que as comunidades indígenas estão vivas e se organizam para manterem suas raízes e suas tradições.

Segundo a professora Maria Silvia Cintra Martins, docente do Departamento de Letras (DL) da UFSCar e coordenadora do evento, o "Caxiri na Cuia" visa mostrar a relação entre a tradição e as tecnologias como movimento de continuidade e renovação. "Queremos desconstruir estereótipos e mostrar que a cultura indígena vem se atualizando", relata Maria Silvia.

A programação completa do "II Caxiri na Cuia: Colóquios com a Literatura Indígena" está disponível no site da UFSCar, em www.ufscar.br. Os interessados em participar do evento, que é gratuito, devem realizar as inscrições nos locais das atividades. Haverá certificados de participação. O Colóquio é uma realização do Grupo de Pesquisa "Linguagens, Etnicidades e Estilos em Transição" (LEETRA) ligado ao PPGLit do DL. Mais informações pelo email grupo.leetra@gmail.com

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Caravana leva literatura indígena para todo país

Caravana Mekukradjá cumpre sua missão em Cuiabá- MT. Feira do Livro Indígena - FLIMT, foi tema de reunião.







Cuiabá recebeu na última semana a Caravana Mekukradjá - literatura indígena em Movimento. A caravana tem percorrido diferentes estados do país com a missão de divulgar a literatura produzida por indígenas e dessa forma, também romper estereótipos tão presentes acerca dos povos indígenas.

Em Cuiabá estiveram presentes Daniel Munduruku, Cristino Wapixana, Rony Wassiri e o Grupo cultural Munduruku do município de Juara.

Com mais de três anos de existência a Caravana realiza contações de histórias, rodas de conversas e saraus literários que envolvem muita música e poesia. Em 2013 a Caravana conta com o apoio do Instituto C&A e de parceiros locais, como foi o caso de Mato Grosso, onde o Sesi, levou o grupo até suas unidades escolares.



Feira do Livro indígena de Mato Grosso



Na passagem por Cuiabá os autores indígenas também puderam se reunir com membros do Instituto Usina, Instituto UKA e visitar a Secretaria de Estado de Cultura. Diversos temas foram abordados, dentre eles, a realização da terceira Flimt - Feira do Livro indígena de Mato Grosso.



A data para a realização do evento ainda está sendo definida, porém é provável que se realize em novembro de 2013. Com o tema A sabedoria das Matas ecoando da cidade, a FLIMT pretende reuniar além de escritores indígenas, artistas, lideranças espirituais e anciãos. Segundo Daniel Munduruku, é importante a valorização dos personagens local. É preciso realizar um amplo debate com as universidades que mantém indígenas em seus cursos e principalmente com os anciões.



Naine Terena



Matéria original: http://oraculocomunica.blogspot.com.br/2013/04/destaque.html