Projeto conta história indígena em idioma falado por seis pessoas
28/04/2012
MÁRIO MOREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma iniciativa editorial vai ajudar na preservação sonora de idiomas indígenas.
O livro bilíngue (português-maraguá) “A Origem do Beija-Flor”, de Yaguarê Yamã, da nação saterê mawé, sai em maio pela Peirópolis.
No site da editora (www.editorapeiropolis.com.br ), haverá um link para ouvir a narração do livro em maraguá, falado hoje por apenas seis pessoas, segundo a editora Renata Borges.
A obra será a segunda da coleção Peirópolis Mundo, em idiomas em extinção (o primeiro foi uma história em xhosa, língua sul-africana, já disponibilizado no site).
Borges diz que a ideia do projeto “é trabalhar com a diversidade linguística e cultural” e “proporcionar o contato da criança com a riqueza fonética” do idioma maraguá.
“Há 190 línguas indígenas em extinção no Brasil”, afirma ela, que pretende editar, como volume seguinte da coleção, um livro português-crenaque (grupo indígena da região do Vale do Rio Doce). Os crenaques são estimados hoje em cerca de 350 pessoas.
A editora FTD já havia lançado uma coletânea com 20 histórias de povos indígenas de todas as regiões do país.
Foi escrita em português e na respectiva língua indígena, incluindo um CD com a narração no idioma original.
O projeto, intitulado “Antologia de Histórias Indígenas”, foi capitaneado pelo escritor Daniel Munduruku, um dos principais autores indígenas do país.
Reuniu diferentes narrativas de povos indígenas do Norte (sete), Centro-Oeste (seis), Nordeste (duas), Sudeste (quatro) e Sul (três).
“A oralidade é a fonte mais primitiva da cultura indígena. Suspeitamos que muitas dessas histórias foram registradas pela primeira vez na língua original”, afirma Ceciliany Alves, editora de literatura infantojuvenil da FTD.
NA GAVETA
Desde os anos 1990, os escritores índios vêm ganhando espaço, sobretudo na literatura infantojuvenil.
Hoje são mais de 30, de acordo com o escritor Kaká Werá Jecupé.
“Até os anos 1990, tinha sempre alguém escrevendo pelo índio. Hoje, de maneira ainda incipiente, já existe uma visão diferente daquela que enxerga o índio como animal folclórico e exótico.”
O autor Olivio Jekupé, que na infância frequentou aldeias guaranis no Paraná, chegou a cursar filosofia na USP e já teve 12 obras infantis lançadas.
“Em compensação, tenho um livro sobre a situação dos índios, mas não consigo publicar. As editoras não acreditam muito em índio falando de seus problemas. Pelo menos a literatura infantil foi uma abertura para nós.”
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