sexta-feira, 29 de março de 2013

Páscoa é passagem.

Páscoa é passagem
Lembroque o primeiro texto que tive coragem de mostrar para meu professor deportuguês foi sobre a páscoa. Eu tinha por volta de 16 anos de idade e fazia oprimeiro ano colegial (ensino médio hoje).
Vivendonum ambiente extremamente religioso e imbuído do espírito pascal que a escolame proporcionava, redigi uma redação onde colocava o que eu considerava overdadeiro sentido da minha fé juvenil: conversão, mudança, transformação.Falei sobre isso com a desenvoltura de um teólogo e tomei coragem de apresentarao saudoso professor Benedito, homem com espírito de mestre. Ele tomou meutexto nas mãos e leu sem esboçar nenhuma reação que demonstrasse gostar oudesgostar do que estava escrito. Ao final ele fitou-me nos olhos e disse semrodeios: - Vá reproduzir no estêncil a álcool e passe cópias para seus colegasde classe. Seu texto é muito emocionante!
Nãosoube o que dizer. Fiquei numa felicidade tamanha! Não consegui esconder meucontentamento, dei um forte abraço no professor e corri para o local ondeficava o mimeógrafo e as máquinas datilográficas. Eu queria ver meu textopronto. No dia seguinte entreguei para que cada colega de classe pudesse tê-loem mãos na hora da leitura conjunta. Não lembro muito qual foi a reação daclasse e, confesso, não me importava nem um pouco. A felicidade que sentia meenchia de satisfação e os olhos de meu professor marejando de emoção não saiamde minha cabeça.
Depoisdisso não recordo de ter escrito qualquer texto que tenha valido a penaenquanto durou minha vida escolar. O certo é que o olhar imperceptível de meuprofessor me fez um bem danado. Nunca disse isso a ele, mas sua atitudearrancou de mim o medo de escrever e, o que é mais difícil, mostrar a outraspessoas. Perdi o receio delas não gostarem ou criticarem meu estilo.
AquelaPáscoa foi para mim um momento marcante. Talvez tenha sido um sinal do queviria acontecer depois. Talvez tenha sido uma provocação divina para mim. Nãosei ao certo e nunca irei saber. Talvez tenha sido apenas a inspiração necessáriapara iniciar um caminho que sequer sabia qual era. Não importa. O fato é quecomecei a gostar da Páscoa pelo que ela representava para minha fé: um momentode passagem da morte para a vida; do sofrimento para a alegria; da angústiapara a liberdade; da solidão para a glória. Tudo isso passou a repercutirdentro de mim com a mesma certeza do olhar do professor que me fizera crer naminha capacidade de me comunicar de forma escrita. Nesse dia, eu tambémressuscitei. E passei a mirar os detalhes. E a notar as coincidências da vida.E a me abrir para o desconhecido. E a dizer sim sempre que o não era maisforte.
Desdeentão procuro não perder a linda celebração que antecede o domingo pascal. É umritual que enaltece toda a história da fé cristã. É uma celebração que emocionaporque me coloca em sintonia com o princípio de tudo. Penso que é a maisindígena de todas as celebrações da igreja, pois ela canta a história de umapessoa que viveu plena e radicalmente sua humanidade. No dizer de LeonardoBoff: “Jesus era tão humano que só podia ser Deus”.
FelizPáscoa a todos nós!

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