PARA
ALÉM DOS MUSEUS, A MEMÓRIA
Daniel Munduruku
Recentemente foi noticiado o
fato de que lideranças do povo Munduruku estiveram em um Museu de História
Natural de Alta Floresta/MT de onde retiraram as “urnas funerárias” da instituição.
As tais urnas haviam sido surrupiadas do território dessa gente quando da construção
das Usinas Hidrelétricas Teles Pires e São Manoel.
Segundo
consta, para a construção da referida barragem foram necessárias a destruição de
lugares considerados sagrados pela gente Munduruku, apesar dos protestos e das negociações
em curso para que tal ação não ocorresse, pois incidiria sobre a sua crença
ancestral.
Conversa
vai, promessa vem o consórcio vencedor do certame garantira que nada iria
ocorrer sem a devida autorização dos indígenas Munduruku. Isso, claro, não foi
cumprido. Aliás, não faz parte manter palavra para quem só pensa em dinheiro. O
ato se consumou e as urnas foram retiradas e levadas para o museu acima citado.
Acontece
que com as “formigas guerreiras” não se
brinca e nem se faz promessa vazia. Cerca
de 70 guerreiros e guerreiras, alicerçados na crença de que não se pode prender
os espíritos da natureza, se dirigiram ao Museu de História Natural de Alta
Floresta – MT e reivindicaram a devolução dos objetos para seu lugar de origem.
O
objetivo era muito claro: estabelecer o equilíbrio entre o homem e a natureza;
devolver os espíritos para seu lugar de origem para que tudo voltasse ao seu
estado normal. Somente assim a paz pode reinar.
Refletindo
cá com meus botões fico imaginando o que passa na cabeça dessa gente que acha
que pode colonizar a crença das pessoas; acha que pode entrar na casa dos
outros e saquear tudo e ainda pensar que “está fazendo o bem”. Penso que há
muito o que descolonizar para que, quem sabe, a gente consiga harmonizar nossas
existências.
Para
quem pensa que “objetos são apenas objetos” e que por isso podem virar produtos,
costumo lembrar que, para além dos museus, existe a memória viva. É ela quem
nos torna partes do mundo em que vivemos. É ela que nos permite compreender quem
somos e porque estamos neste mundo. Nossa memória não tem preço. Nossos ancestrais
estão vivos em nós. Sawé!
Quem
desejar ler as justificativas dadas pelos Munduruku para sua ação de “reintegração
sagrada de posse” basta visitar o site: https://movimentoiperegayu.wordpress.com/2019/12/30/resgate-das-itiga-pelo-povo-munduruku/?fbclid=IwAR0hmQ4HY1B49bJe2hKDv6xlektgsWMUGT1IYdrdVMZLbcOtHs4TUkXyGwY
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