Moura sempre foi um amigo muito presente na minha história pessoal. Foi aos poucos se tornando um mestre querido capaz de nos fazer rir ainda que de assuntos muito difíceis e amargos que o entristeciam. Ele não nos permitia ficar lamentando as coisas ruins ou difíceis do nosso cotidiano. Estava sempre nos empurrando para cima, nos fazendo acreditar e buscar os sonhos que alimentavam nossa atuação. Agia como um sábio avô que tinha a certeza de que estava deixando para seus netos uma herança escrita no interior de cada um.
Quando hoje recebi a notícia de que meu amigo tinha ido se encontrar com os ancestrais, meus olhos se encheram de lágrimas. Senti que a negociação que ele estava fazendo com os anjos não havia sido bem sucedida e que o melhor foi que ele ficasse por lá. Confesso que, nesse momento, me senti órfão. Senti que nosso mundo ficou mais pobre; senti que o movimento indígena perdeu seu avatar mais ilustre; senti que nossa luta perdeu seu grande Merlin, o poderoso mago capaz de soluções mágicas e extraordinárias.
Minhas lágrimas não são de dor ou de sofrimento. Minhas lágrimas são um misto de felicidade e solidão. Minha felicidade vem da certeza de ter convivido com um homem de Deus, íntegro, intenso, inteiro. Minha lágrima de solidão me lembra que morrer é um ato de entrega e toda entrega é uma escolha solitária. Morrer é um aprendizado mais difícil que viver. É preciso morrer a cada dia. Morrer é um exercício de solidão. O bom de pensar no amigo Moura é que ele soube ensinar a mim – e penso que aos meus colegas – a viver e a morrer com dignidade.
Ontem, dia 02, reunido com amigos na chapada dos Guimarães, recitei um poema que me é muito caro. Um poema que fala da finitude da vida e da necessidade de nos desapegarmos da vida a cada momento. Recitei para uma amiga que comemorava seu aniversário, mas no silêncio do meu coração o dizia também para meu amigo no hospital. O poema termina assim:
“...E quando se vai morrer lembrar que o dia também morre e que a noite é bela. E belo é o poente que fica” (Alberto Caeiro)
Moura me ensinou a olhar o poente e a contemplar a noite. Hoje, olhando o céu estrelado sinto que meu mestre olha lá de cima por todos nós.
Ontem, dia 02, reunido com amigos na chapada dos Guimarães, recitei um poema que me é muito caro. Um poema que fala da finitude da vida e da necessidade de nos desapegarmos da vida a cada momento. Recitei para uma amiga que comemorava seu aniversário, mas no silêncio do meu coração o dizia também para meu amigo no hospital. O poema termina assim:
“...E quando se vai morrer lembrar que o dia também morre e que a noite é bela. E belo é o poente que fica” (Alberto Caeiro)
Moura me ensinou a olhar o poente e a contemplar a noite. Hoje, olhando o céu estrelado sinto que meu mestre olha lá de cima por todos nós.
(Daniel Munduruku)
Nenhum comentário:
Postar um comentário