quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mais uma vez é Natal


(por Daniel Munduruku)


Mais uma vez é natal. Tempo de dar um tempo. De dar tempo ao tempo que escorre pelas mãos. Um tempo de dar tempo ao tempo que foge solitário entre os vãos e desvãos de nossas vidas. Tempo de pensar, de refletir, de meditar.
Mais uma vez é natal. Tempo de pensar no dono do tempo, o Atemporal. Hora de não ficar contando as horas e ajoelhar-se diante das maravilhas que a vida oferece. E tempo de refletir sobre as injustiças que cometemos diariamente.
Mais uma vez é natal. O que estamos celebrando? O consumo? A melodia das compras? As imagens televisivas? O tilintar das moedas nas caixas registradoras? As doces engabelações do sistema financeiro? Os programas que "dão" presentes para os deserdados da vida?
Mais uma vez é natal. O que nos resta da data que celebramos? Lamento dizer: nada. Apenas uma ilusão de que nosso espírito humanitário continua intacto. Uma reunião de família [normalmente morna e sem sentido] que não existe mais. Perus abatidos inertes sobre uma mesa que não nos lembra mais que ser humano é movimento.
Mais uma vez é natal...e daí? As chuvas continuarão caindo com intensidade sempre maior derrubando casas e esperanças. Os governos continuarão "brincando" de deuses. Os multimilionários gastarão suas riquezas com vaidades insensatas. Meninos e meninas continuarão sendo violentados pelo sistema educacional que teima em não se renovar.
Mais uma vez é natal...o que nos resta se tudo vai continuar do mesmo jeito? Voltaremos à vida banal de antes depois de tomarmos uns drinques e fizermos todas as promessas de renovação, de mudança?
Mais uma vez é natal. Ano após ano é natal. Dia após dia é natal. Hora após hora é natal. É o seu natal, é o meu natal.
Para que serve o natal? Para nos lembrar que a roda está rodando. Que o ciclo está se acabando. Para lembrar nossa finitude. Para alertar que nada somos. Que pertencemos a uma humanidade que está se autoflagelando. Foi para isso que o pajé Jesus nasceu. Não foi para nos salvar, mas para nos condenar à solidão de nós mesmos. Para nos lembrar que é possível ser Deus mesmo sendo humanos. E que é possível ser humano mesmo sendo um Deus.
Somos um e outro quando não esquecemos que mais uma vez é Natal!

 

 


 


 


 


 


 


  

2 comentários:

  1. Boa reflexão, meu amigo. Compartilho sua percepção. Pode até ter soado melancólico. Por uma leitura descuidada, talvez. Mas há esperança nas entrelinhas. Natal pressupõe renovação. E os pobres pinheiros deviam ter raízes, não? Seja como for, que boas sementes brotem no ano novo. Para a gente dividir seus frutos, com prazer de um ciclo virtuoso. Saudações!
    Mauricio Negro

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  2. Caro amigo, obrigado por suas palavras. Realmente não é um texto melancólico. Na verdade, a esperança também cansa, né? Continue mandando sua "leitura" sobre as minhas leituras.
    Abraço
    Daniel

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