quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Povos indígenas querem reconhecimento de suas línguas no Chile



A Rede pelos Direitos Educativos e Linguísticos dos povos indígenas do Chile convocou várias organizações para esta quinta-feira (21), para comemorar o Dia Internacional da Língua Materna.


Mapuches
Chilenos pedem reconhecimento das línguas indígenas 
Com marchas, concentrações, fóruns e outras manifestações, os grupos indígenas e pessoas comprometidas com a defesa das comunidades originárias no Chile se propõem, entre outros desafios, promover a aprovação de uma Lei de Direitos Linguísticos dos povos indígenas.

Além disso, exigir o reconhecimento das línguas indígenas como nacionais e oficiais em cada território, e promover a proliferação de espaços de ensino-aprendizagem das línguas originárias.

Na cidade de Temuco ao sul, na Região da Araucania, região de população mapuche, foi convocada uma grande marcha, que começará na Plaza del Hospital.

O Dia da Língua Materna ficou estabelecido pela Unesco em 1999 em homenagem aos jovens Abul Barkat, Rafiquddin Ahmed e Shafiur Rahman, baleados no dia 21 de fevereiro de 1952 durante uma manifestação que exigia o reconhecimento do idioma Bangla como uma das línguas oficiais do Paquistão.

Perda da cultura
A Rede pelos Direitos Educativos e Linguísticos dos povos indígenas do Chile considera que existe uma deterioração alarmante no uso e transmissão das línguas indígenas.

"É necessário voltar a utilizar as línguas: pedir às idosas e idosos que ensinem às meninas e meninos, pressionar o Estado chileno para que cumpra com as obrigações contraídas na assinatura de acordos internacionais que velam pelos direitos dos povos indígenas e suas línguas", afirmou a organização.

A Rede considera necessária a criação de escolas bilingues, e programas de educação intercultural para todos os cursos profissionais com pertinência cultural, entre outras medidas.

Fonte: Prensa Latina

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Escritores indígenas falam da importância da literatura nativa para a educação das crianças


Olivio Jekupé contando histórias para crianças
Por Carolina Cunha 
 
As crianças indígenas crescem ouvindo histórias contadas pelos velhos da aldeia. Escutá-las é parte fundamental de seu processo de educação. Essa cultura, que faz parte das raízes do povo brasileiro, também pode ser encontrada nos livros.

O SaraivaConteúdo conversou com Daniel Munduruku e Olívio Jekupé, dois escritores que nasceram em aldeias e hoje escrevem literatura infantojuvenil de temática indígena, obras cada vez mais comuns nas livrarias e escolas.

“Há uma mudança significativa no modo como o país vê seus povos ancestrais”, acredita Daniel, um dos principais escritores da literatura infantojuvenil do país. Nascido na Aldeia Maracanã (PA), ele já foi professor e contador de histórias. Estudou filosofia e hoje se empenha em preservar a cultura oral dos antepassados.

Lua se esforça para entender a arte de fazer chover. Já Kabá Darebu aprendeu com os pais a olhar o voo dos pássaros para ver as notícias do céu. Os dois fazem parte da galeria de personagens de Daniel, inspirados nas histórias que aprendeu ainda garoto, com os pais e avós.

“Me sinto como um educador que escreve. Costumo dizer que escrevo filosofia para crianças de todas as idades. Um adulto, se quiser ler meus livros, terá que fazer um exercício para ouvir suas vozes ancestrais. Isso as crianças fazem sem esforço”, diz o escritor.

O elemento que costura grande parte das narrativas indígenas são os mitos, transmitidos desde tempos imemoriais. Para Daniel, essas histórias devem ser lidas com o coração e podem nos ajudar a compreender o mundo e a crescer de forma mais equilibrada.

“O ser humano é formado por estes elementos que as histórias trazem: coragem e medo; amor e desamor; sofrimento e alegria. Somos forjados por sentimentos que se desdobram dentro da gente. Parte disso se dá por conta da construção dos mitos que carregamos conosco. Eles nos ajudam a compreender a nossa humanidade e a de outras pessoas”, diz o escritor.

No caso da cultura indígena, as histórias mostram a força da natureza, a diversidade cultural, o respeito aos antepassados, a origem das coisas, os desafios de ser criança e tomar decisões.

“Somos parte de uma teia que se inscreve dentro de cada pessoa. Somos PARTE, não donos. É isto que essa literatura que escrevemos traz de novidade: ela lembra que não podemos ser arrogantes, nos considerando o ápice da natureza. A educação só fará sentido se contribuir para que as crianças pensem uma forma nova de mantermos o planeta vivo. É isso que, de certa forma, os povos indígenas brasileiros continuam a nos ensinar”, diz o escritor.
 
Ilustração do livro O Segredo da Chuva
UMA ALDEIA GUARANI CHEIA DE HISTÓRIAS

“Os índios comem seres humanos?”. A primeira vez que Olívio Jekupé escutou essa pergunta, ele ficou assustado. Percebeu que o preconceito e a falta de conhecimento das crianças sobre como os índios vivem ainda era muito grande.

Morador da aldeia guarani Krukutu (SP), O escritor Olívio Jekupé já tem 13 títulos infantis publicados. Em sua comunidade, atua como educador e monitor de escolas visitantes.

“A criança tem medo dos índios, e a literatura tem o poder de quebrar esse preconceito. Hoje nós somos poucos no Brasil. Somos apenas 500 mil. Pelos livros, ela vai entender mais da nossa cultura”, diz Olívio.

Uma das obras de Jekupé é a Ajuda de Saci, na qual ele apresenta a lenda do protetor da floresta, que muitos não sabiam que veio dos guaranis. Em suas histórias, o escritor fala de mitos e de como muito da cultura brasileira – o chimarrão, o churrasco, o açaí, a farinha de mandioca, entre outros – veio dos primeiros habitantes do continente.

Na aldeia Krukutu, as crianças são alfabetizadas em guarani e brincam o tempo todo. Desde pequenas, já aprendem a conviver com a natureza. Acender fogueira, pescar no rio, fazer armadilha, caçar. À noite, é comum os filhos irem para o Opy, a Casa de Reza. Nessa grande oca, existem os momentos de cânticos e cura, mas também de contação de histórias.

“Nossos filhos sempre ouviram histórias. Só que antes, os livros eram os pajés. Graças aos antigos é que temos nossa história viva. Digo que o povo indígena sempre foi escritor, só que não sabia escrever. Hoje, a criança escuta, mas ela também lê”, diz Olívio.

De tanto escutar histórias, o filho de Olívio, Jeguaká Mirim, decidiu seguir os caminhos do pai. Aos onze anos, ele acaba de escrever o seu primeiro livro. “Falo de um menino que viu a árvore falando sozinha, ele viu que a árvore estava com sede e foi trazer água. Ele tinha um pouco no copo, mas tomou tudo. E a árvore ficou muito triste”, diz o garoto, com dificuldade em se expressar em português.

Assim como seu filho, Olívio acredita que as crianças sempre gostam de falar da natureza. “Elas gostam de bicho, da lua, do sol, das árvores. É dessa forma que a gente fala e enxerga o mundo. A vida da gente todo dia é uma história!”.

DICA DE AUTORES

Daniel indicou autores para você começar a ler histórias indígenas com seu filho:

Roni Wasiry Guará - Maraguá
Yaguarê Yamã - Maraguá
Carlos Tiago - Saterê-Mawé
Graça Graúna - Potiguara
Cristino Wapichana
Luiz Carlos Karai


http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/49758

CARTAS DOS ESTUDANTES MUNDURUKU- PROTESTO CONTRA A VIOLÊNCIA

Cartas dos estudantes munduruku- Protesto contra a violência

CARTAS DOS ESTUDANTES MUNDURUKU- PROTESTO CONTRA A VIOLÊNCIA

MENSAGENS DO POVO MUNDURUKU À NAÇÃO BRASILEIRA E AO MUNDO

As cartas que compartilho abaixo foram escritas durante as aulas de Antropologia do Projeto Ibaorebu de Ensino Médio Integrado Munduruku, com o propósito de dar VOZ aos Munduruku e divulgar o que vivem, o que pensam e o que sentem, especialmente nesse momento de ameaças e violações extremas aos direitos indígenas.
O Projeto Ibaorebu é executado pela Fundação Nacional do Índio e coordenado pelo indigenista e historiador André Ramos, possui mais de 200 alunos, divididos entre as turmas de Magistério Intercultural, Técnico em Enfermagem e Técnico em Agroecologia. Trata-se, sobretudo, de um Projeto construído com e para os Munduruku, configurando-se como um raro exemplo de educação escolar diferenciada e de qualidade. O Ibaorebu tem se constituído, assim, como um espaço privilegiado de exercício da autonomia e do protagonismo Munduruku.
Os autores destas cartas são alunos e alunas das turmas de Magistério Intercultural, que também atuam como professores nas escolas de suas comunidades e, portanto, exercem um papel essencial de formação e informação. Foram eles, os autores, que solicitaram a divulgação das suas palavras, para que o Brasil e o mundo soubessem do que o Povo Munduruku vem enfrentando.
Brasília, 21 de dezembro de 2012.
Izabel Gobbi
Antropóloga
Professora de Antropologia no Projeto Ibaorebu
Coordenação de Processos Educativos – CGPC/FUNAI
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“Noticiário Munduruku”

“Nós, alunos do Projeto Ibaorebu e comunidades Munduruku, localizadas no Município de Jacareacanga, estado do Pará, Brasil, vimos por meio desta reivindicar ao Governo nacional e entidades internacionais a revogação da Portaria 303 da AGU e PEC 215, pois desrespeitam os direitos dos Povos Indígenas garantidos na Constituição Federal de 1988. As referidas Portarias são ameaçadoras para a preservação do território indígena e suas culturas. Na oportunidade reivindicamos atenção dos governantes para que os Artigos 231 e 232 da Constituição Federal sejam respeitados e cumpridos.
Ressaltamos, ainda, nossa preocupação diante dos grandes projetos do Governo, especialmente as HIDRELÉTRICAS, que afetarão o nosso território tradicional, nossa cultura, causando futuramente o desaparecimento da nossa história milenar, o desaparecimento dos lugares sagrados, nos impedindo de praticarmos nossa religiosidade tradicional.
Ressaltamos os fatos chocantes ocorridos com o povo Munduruku, como o ataque dos Policiais Federais, na Aldeia Teles Pires, quando ocorreu o assassinato de um indígena Munduruku, o que abalou diretamente todo o Povo Munduruku.
Diante disso pedimos aos governantes do mundo valorização e respeito para com os povos indígenas, e que a justiça seja feita para punir os culpados da morte do parente. O que os Policiais Federais cometeram é injustiça contra a nação Munduruku, somos oriundos dessa terra e merecemos respeito.
Não somos assassinos e nem bandidos para sermos atacados pela polícia, somos um povo que tem história, a língua e a cultura, merecemos ter paz e vida digna para manter os nossos costumes e repassar esse conhecimento de geração em geração.
A nossa luta sempre continua em defesa do nosso direito.”
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“Carta dos Munduruku à Nação Brasileira”

“Sai-Cinza, 05 de dezembro de 2012.
Nós, alunos do Projeto Ibaorebu, vimos por esta carta aberta trazer informações importantes sobre nossa realidade, noticiar fatos que trarão grandes transtornos à nossa sobrevivência cultural enquanto povo, enquanto nação, nesse país.
Bom dia, parentes de todo o país, todos os brasileiros, de todas as regiões, das cidades, dos lugares mais distantes e isolados. O que temos enfrentado são muitas dificuldades, mas a maior de todas é o que estamos vivenciando no momento, com as ameaças das construções dos complexos hidrelétricos em nossos rios, fora os garimpos e outros assuntos que estamos discutindo, desde muito tempo.
Queremos que o Governo, as autoridades, respeitem as nossas conquistas, as nossas lutas, nosso território, nossas riquezas, nossa cultura, nossa biodiversidade. Por mais que a nossa Terra Tradicional esteja demarcada, em face disso estamos enfrentando o maior pesadelo, que são as construções das usinas hidrelétricas ao longo de nosso rio.
Como podemos viver, sobreviver, sem a nossa história? Como podemos preservar e continuar com a nossa cultura milenar? Como continuar existindo, se os projetos ameaçam nossa sobrevivência física e cultural?
Somos protetores da natureza, vivemos dela, sobrevivemos e somos parte dela. Portanto, as conquistas não foram fáceis, houve lutas e mortes. Os nossos pais morreram lutando. Agora querem destruir os nossos sonhos. Querem passar por cima das leis, das nossas conquistas, dos nossos direitos. Temos direito à terra, à educação, e não merecemos isso. Portanto, lideranças políticas, ouçam os povos indígenas dessa nação!”


alunos mundurucu formandos
“Nós somos alunos da etnia Munduruku, localizados no sudoeste do Pará. Nós temos 118 aldeias, moramos na margem esquerda do Rio Tapajós, no município de Jacareacanga.
Viemos por meio desta manifestar a Vossa Excelência nossa preocupação com o grande projeto do Governo Federal de construir cinco barragens no nosso Rio Tapajós. Será que os governantes não entendem a nossa Constituição Federal de 1988, especialmente os Artigos 231 e 232? Será que os não índios não entendem o nosso desenvolvimento e que o nosso processo é diferente dos brancos?
Os governantes estão nos desafiando: vocês não entendem que colocamos vocês para governar esse nosso país, Brasil. Se os Governos Federal, Estadual e Municipal não desistirem de construir barragens, já temos um plano para as próximas eleições, temos a nossa decisão e o futuro de vocês está em nossas mãos.
Nos deixem em paz! Não façam coisas ruins para nós, Povo Munduruku. Porque essas barragens vão trazer destruição e morte, desrespeito e crime ambiental, por isso não aceitamos a construção das barragens.
O Governo não traz coisas que são importantes para a vida do nosso Povo Munduruku, para suprir as necessidades que temos, como: educação de qualidade, ensino médio e ensino superior diferenciado, posto de saúde adequado. Isso é importante para a vida do nosso povo. Agora, a destruição do nosso meio ambiente jamais aceitaremos e nunca deixaremos que isso aconteça. Porque nós já moramos há mais de 500 anos dentro da floresta, não tivemos contatos com não índios e não queremos transformar em mercadoria a nossa floresta! Porque a nossa mata, a nossa terra, os nossos rios, são a nossa mãe, a nossa vida.
Portanto, não destruímos o que guardamos com tanto carinho e com respeito, porque nela existem vários lugares sagrados, são importantes para a vida do nosso povo e para a vida dos animais. Guardamos nossa terra tradicionalmente. Jamais pensamos em fazer maldade com os não índios, não temos preconceito nenhum com os não índios. Eles que tem preconceito com os indígenas.
Finalizamos esta carta, que foi elaborada pelos estudantes do curso Magistério do Projeto Ibaorebu, dirigida aos irmãos indígenas e não indígenas, e às autoridades máximas. Pedimos apoio aos jovens e àquelas pessoas interessadas a ajudar o povo sofrido e preocupado.
Aldeia Sai-Cinza, 10 de dezembro de 2012”
***
“Somos Munduruku da região do Alto Tapajós, povo guerreiro e temido, certamente muito admirado por ter uma cultura diferente. Temos conhecimentos da natureza, sabemos de sua importância e utilidade para nosso modo de subsistência. Existe a biodiversidade, portanto, todo o nosso conhecimento está guardado ali. Por isso, nós não a destruímos porque dela tiramos algo importante.
A natureza existe porque os nossos antepassados se submeteram a um sacrifício para que houvesse a natureza em pé e ter sempre a vida. Na verdade, as árvores contêm o nosso sangue, portanto nos dá vida. Por essa razão, as respeitamos, não destruímos.
Temos a imensa riqueza, possuímos não para fazer grande acúmulo e, sim, deixar guardado com segurança e em seu devido lugar. Dependemos realmente dessa natureza, é ela que nos ensina, é ela que nos mantém seguros. Ela nos dá saúde, nos dá vida, nela existe toda fonte de riqueza. A natureza, para nós, é um sistema de equilíbrio e, por isso, temos harmonia. Para nós, ela é sagrada. Ela tem suas normas, regras e suas leis. Por isso que temos boas relações com ela e a respeitamos.
Não somos contra o desenvolvimento e nem o progresso. Mas somos totalmente contra a destruição da nossa floresta, isso causa impacto no nosso ambiente. NÓS NÃO ACEITAMOS O DESENVOLVIMENTO E O PROGRESSO DESSE TIPO. Somos contra a destruição da nossa floresta, somos contra a violação dos nossos direitos, como: violência, assassinatos, genocídios, discriminação, terras não demarcadas e desrespeito.
O Governo pensa em construir grandes projetos em Terras Indígenas e faz grandes investimentos, quando nós, indígenas, reivindicamos os nossos direitos para melhoria da educação, saúde, segurança e etc. O Governo diz que não há recursos para garantir a nossa qualidade de vida, mas com essas construções quer nos destruir e acabar conosco e com a floresta. E pensa, assim, em acabar com a população indígena no Brasil. Será que é dessa maneira que o Governo pensa em progresso, em desenvolvimento? Acreditamos que isso não é desenvolvimento, nem progresso.
E se perdermos nossas terras, nossas culturas, o Governo vai garantir resolver os problemas do mundo? Vai acabar com as desigualdades sociais? E o desemprego, as doenças e a miséria? O Governo vai garantir dar salário a todas as pessoas desempregadas e, assim, acabar com a pobreza?
O que o mundo inteiro pensa da resistência dos povos indígenas no Brasil e no mundo? Somos povos que preservam a natureza; que vivem de acordo com suas tradições, deixadas como herança dos antepassados; que mantêm em perfeito equilíbrio o funcionamento do sistema planetário.
É triste lembrar de tantas violações aos direitos indígenas. As nossas lágrimas chegam a inundar algumas cidades, em algumas regiões, de tanto chorarmos. E, em outras regiões, aparecem secas, é porque nossos olhos não contêm mais lágrimas. É assim que são anunciadas as notícias na mídia, como notícias de catástrofes e são interpretadas como mudanças climáticas no planeta.
O que os países mais ricos do mundo pensam de nós? Como nos veem? Pensam em nos socorrer? Ou deixam que isso aconteça, que ninguém se mobilize e aconteça a extinção da floresta e dos povos indígenas?
Não estamos preocupados apenas por sermos Munduruku, essa mensagem é para todas as nações existentes no mundo.
A Amazônia tem floresta em pbemos que, sendo assim, ela nos dá vida, porque ela também é responsável pela vida no planeta. Nós, Munduruku, o que somos realmente? Somos assim tão insignificantes? Os governantes não se preocupam com o bem estar social dos indígenas?
Ainda pensam em nós como caçadores de cabeça, como viveram nossos antepassados. Não somos bárbaros, mas isso é a demonstração de nossa bravura. Mostra que conseguimos troféus com lutas, lutas que temos não por acaso. Isso mostra a nossa verdadeira identidade, que somos verdadeiros guerreiros, os guardiões da floresta.
Cadê a admiração da sociedade envolvente? Nos vê apenas como mercadorias para fazer negócios? Querem apenas nos explorar? Querem nos usar como fontes de pesquisas científicas, para extraírem os conhecimentos que temos guardados há milhares de anos? Não vemos assim nenhuma valorização da nossa cultura. Somos esquecidos, mas nós lembramos das outras nações”.

Mensagem do educador Jairo Saw Munduruku, do clã Saw (saúva da noite), clã vermelho. Nome em Munduruku: Saw Exebu – “aquele que está sempre junto”.
***
“Eu, indígena do Povo Munduruku, venho dizer ao Governo que acho que já está na hora do Governo brasileiro respeitar a vontade e os direitos dos Povos Indígenas. Há mais de 500 anos já estávamos nesta terra, cansamos de dizer que este é o nosso território. O Governo Federal criou uma Constituição para defender e amparar os direitos indígenas, mas mesmo assim vem atropelando e desrespeitando a nossa vontade. Por isso quero dizer que, no Brasil, não existe lei e nem justiça, porque a Amazônia está sendo devastada, as terras indígenas sendo invadidas, lideranças sendo perseguidas, caciques sendo assassinados defendendo seus direitos.

Além do sofrimento que já passamos com tudo o que vem acontecendo, a AGU ainda criou uma Portaria 303, que consideramos um assassino para nossos direitos. O Governo cria essa lei porque não tem coração, não é ser humano, não vê natureza bonita, não sente amor… Governo só sonha com dinheiro; nós sonhamos com dias melhores, em harmonia com a natureza e consumindo a natureza com sustentabilidade, viver com saúde, ter uma educação diferenciada, de acordo com nossos direitos.
Não mentimos! Por isso, Governo Federal ou AGU, venham conhecer nossa realidade, ver que a Amazônia está se acabando e respeitar e ouvir nosso clamor”
Sandro Waro Munduruku – Aldeia Teles Pires/PA – 11/12/12
Veja no link do CIMI algumas fotos que atestam a violencia: 
Fonte: http://www.padrenello.com/cartas-dos-estudantes-munduruku-protesto-contra-a-violencia/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Abordagem da cultura indígena nas obras de Daniel Munduruku



por Fernanda Faustino | 08/01/2013


Daniel Munduruku: “Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens. Procuro encontrar um cantinho na cabeça deles”
“Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens. Procuro encontrar um cantinho na cabeça deles”, diz Daniel Munduruku, escritor indígena graduado em filosofia e educador social, ao abordar a reprodução da cultura indígena e o processo de criação de suas obras.
Com mais de 40 livros publicados, Daniel esteve em vários países da Europa, participando de conferências e ministrando oficinas culturais para crianças, com o intuito de dialogar sobre a cultura indígena. Ele conta que nunca escolheu ser escritor, contudo, o fato de ter algo a dizer sobre seu povo o motivava a fazer com que sua própria história e a de seus ancestrais fosse registrada e disseminada. “A escrita foi tomando conta de mim e, aos poucos, fui me aceitando: aceitando o fato de que minha escrita tem algo a dizer, aceitando ser dono de um estilo de narrativa que me foi oferecido por meus antepassados”, ressalta.
Apesar de tudo o que é feito para retratar e propagar a cultura indígena, o autor aponta que ainda há muito a ser feito. “A cultura indígena ainda é vista como folclórica. Isso é fruto de uma política que sempre tratou os indígenas como seres do passado, parados no tempo, sem história”, relata. “O resultado disso tem sido desastroso para a própria sociedade, pois acabou negando a participação efetiva de nossa gente indígena na composição da identidade nacional.”

Pela Global Editora, Daniel tem publicadas as seguintes obras: A Caveira Rolante, A Mulher-Lesma e Outras Histórias Indígenas de AssustarA Palavra do Grande ChefeA Primeira Estrela que Vejo É a Estrela do Meu Desejo e Outras Histórias Indígenas de AmorContos Indígenas BrasileirosO Banquete dos DeusesOutras Tantas Histórias Indígenas de Origem das Coisas e do UniversoParece que Foi OntemSabedoria das ÁguasVocê Lembra, Pai?, além de integrar as antologias Conto Com Você e Um Fio de Prosa.
Confira a entrevista completa com o autor:

A partir de que momento você decidiu que queria ser escritor?
A escrita foi tomando conta de mim. Nunca escolhi ser escritor, mas me deixei contaminar pela doença que é escrever. Aos poucos, fui aceitando o fato de que minha escrita tem algo a dizer, aceitando ser dono de um estilo de narrativa que me foi oferecido por meus antepassados. A eles sou sempre grato.
Em seus livros, que aspectos da cultura indígena você procura retratar?
Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens. Procuro encontrar um cantinho na cabeça deles. Sei que há muito preconceito com relação às populações indígenas, mas procuro ocupar esse espaço com assuntos que podem substituir o olhar equivocado. Talvez seja por isso que crio e conto histórias, reconto histórias tradicionais e trago informações. Ainda há muito a ser dito sobre a cultura indígena. E é pensando nisso que incentivo os jovens indígenas a escreverem suas histórias, pois não tenho sensibilidade suficiente para tratar de toda a magia que envolve nossa gente.
Como você enxerga a reprodução da cultura indígena na sociedade?
Infelizmente a cultura indígena é ainda vista como folclórica. Isso é fruto de uma política que sempre tratou os indígenas como seres do passado, parados no tempo, sem história. A sociedade brasileira acabou incorporando esse equivoco e aceitando como uma verdade absoluta. O resultado tem sido desastroso para a própria sociedade, pois acabou negando a participação efetiva de nossa gente na composição da identidade nacional. Além disso, esconde, não sem cinismo, o componente indígena de seu DNA.


Veja aqui os títulos do autor publicados pela Editora Global
De onde surge a inspiração para seus livros?
Meus textos são frutos de minha observação da realidade. Procuro não esquecer a beleza que há em cada momento, mesmo que não seja muito favorável. Busco o invisível num mundo onde reina apenas a aparência. Procuro não julgar, mas compreender. É dessa postura que nasce minha inspiração. Ela nasce no momento em que fecho os olhos para enxergar melhor.
Como educador, qual você considera ser a maior barreira quando se trata da disseminação da cultura indígena?
A maior barreira está no interior dos educadores. Educar é professar um ato de fé no ser humano. Para fazê-lo, é necessário saber fechar os olhos para se jogar em um abismo do improvável. O problema maior é que grande parte dos educadores não acredita em si mesmo. Ou seja, não é capaz de fechar os olhos para enxergar melhor a si mesmo e ver que há nele um universo inteiro que clama por uma verdadeira humanidade. Não crendo em si mesmo, como pode crer nas outras pessoas? Como educar para a diversidade? Como poderá ver a beleza que há no outro? Educar é sair de si e ir ao encontro do outro. É um ato de generosidade, de renúncia. Numa sociedade onde o que vale é o egoísmo, parece que pedir isso de alguém é absoluta falta de bom senso. Mas é justamente aí que mora a grande dificuldade da educação nacional.
Apesar do que vem sendo feito para propagar a cultura indígena, de que forma você acredita que a sociedade pode contribuir para que essa cultura seja, cada vez mais, difundida? 
A cultura indígena não precisa ser difundida. Não creio que os povos nativos estejam desejando ser melhor compreendidos ou conhecidos. A luta deles tem sido em direção de se sentirem parte da sociedade. O que tem ocorrido é uma invisibilidade patrocinada pelo sistema capitalista que prima pela destruição das diferenças procurando homogeneizá-las através do processo educativo. Penso que o melhor caminho é o da tolerância. Isso passa pela educação familiar e não pela escola. Aprende-se a respeitar o outro observando o exemplo dos adultos, mas a escola tem sido o lugar do desaprendizado, pois ensina a separação, a divisão, a multiplicação, o controle do outro, o domínio e o poder. Tolerar é deixar que o outro seja quem ele quiser ser e não o que desejamos para ele. Quando o outro pode ser plenamente o que é, a beleza acontece. É um aceitando o que é belo no outro e não acentuando o que há de feio, de triste. Isso é valorizar o menos ao invés do mais. Precisamos construir o caminho da tolerância, do respeito ao outro, do encontro com a diversidade.
Com tanta influência dos meios externos, quais são as maiores dificuldades das povos indígenas para manter sua tradição?
Quero deixar claro que há um equivoco ao ligar a tradição como algo do passado longínquo. Tradição é um método de manutenção da cultura. Método é caminho e caminho é movimento. Se há caminho, há segurança, continuidade. Manter a tradição não é andar sempre pelo mesmo caminho, mas não permitir que esqueçamos o caminho já percorrido. Este é o desafio dos povos indígenas hoje: como percorrer os caminhos que temos pela frente sem sair do caminho construído por nossos pais. Manter a tradição é, pois, ser fiel ao que nos foi ensinado. E o que nos foi ensinado? Que temos de viver o momento presente com a intensidade que ele se nos apresenta. E justamente por respeitarmos a tradição é que temos que fazer o exercício contínuo de atualizar a memória ancestral utilizando os instrumentos que hoje temos a nossa disposição. Portanto, dominar as novas tecnologias da informação e servir-se delas para difundir o caminho dos antepassados e construir uma nova relação com a sociedade nacional, é a melhor forma de nos sentirmos partícipes do universo sonhado pelos espíritos criadores.
http://www.globaleditora.com.br/noticias/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras-de-daniel-munduruku/

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

I Encontro Nacional de Estudantes Indígenas - 02 a 06 de Setembro

Prezados amigos e aliadas,

Os alunos da UFSCar - Universidade Federal de São Carlos - estão organizando o I ENEI - Encontro Nacional de Estudantes Indígenas - para o início de setembro.
Será um grande encontro que congregará estudantes universitários indígenas para discutir o Ensino Superior para Povos Indígenas.
Em breve serão abertas as inscrições para apresentação de trabalhos e como as pessoas poderão participar deste histórico evento. Lembro que ele está sendo todo preparado por uma comissão de estudantes indígenas com o apoio de instituições de fomento à pesquisa. Outras colaborações serão bem vindas.
Acompanhem as informações no site que está sendo construído - por indígenas universitários - especialmente para cobrir o evento.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mestres em Sustentabilidade exploram diversidade cultural dos povos indígenas

Mariana Costa/UnB Agência
 Isabel Taukane pesquisou protagonismo feminino em instituto indígena


Mestres em Sustentabilidade exploram diversidade cultural dos povos indígenas
Primeira turma do curso, que uniu alunos indígenas e não-indígenas, debateu temas como meio ambiente, representação política, protagonismo feminino e arte

Jairo Macedo - Da Secretaria de Comunicação da UnB




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O estudo dos povos nativos do Brasil existe na UnB desde a sua fundação. E agora ganha novas contribuições dos recém-formados mestres em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Indígenas. São profissionais indígenas e não-indígenas, que discutem questões ligadas a tradição, gêneros, meio ambiente e reafirmam o “protagonismo e autoria indígena na vida acadêmica", na definição do professor Othon Leonardos, um dos responsáveis pela criação do curso.
“A origem dos estudos indigenistas na UnB veio ainda na sua fundação, com Darcy Ribeiro, seguiu nos anos 1970 com Roberto Cardoso de Oliveira e jamais parou”, relembrou Jaime Santana, decano de Pesquisa e Pós-Graduação. Para ele, o alto nível das dissertações da primeira turma do curso aponta para novos desdobramentos. “Trabalhamos já com a ideia de pós-graduação em estudos de línguas indígenas. São mais de 400 línguas, que precisam ser pauta acadêmica e a UnB está na ponta desse processo”.
Um exemplo dessa excelência ligada à diversidade é a aluno Maria Elenir Neves. Nascido no Rio Grande do Sul, ela é da etnia dos kaingang e especialista em da Secretaria Especial de Saúde Indígena. Em sua dissertação, Maria analisou os cuidados com gestação, parto e pós-parto em sua tribo. “Décadas atrás, era difícil ouvir a voz dessas mulheres em uma tribo capitaneada pelos homens. Eram como que invisíveis e nós da saúde não sabíamos ouví-las”, afirma. Ela conta que só quando trabalhou diretamente com o parto kaingang – e todas as suas especificidades, que incluem uso de chás, banhos, bafações, dietas alimentares e resguardo – começou a ser entendida como mulher e médica pela tribo. “Minha tese atesta que só assim, com articulação e entendimento do médico da cultura do outro, podemos chegar a um denominador comum de saúde”, resume ela.
Mariana Costa/UnB Agência
 Maria Elenir defende articulaão entre tradição e a medicina oficial
Filha de Mário Juruna, militante histórico, a xavante Samantha Ro’otsitsina de Carvalho Juruna herdou do pai o interesse pela luta. No mestrado, abordou o movimento indígena sob recorte do Acampamento Terra Livre (ATL), que desde 2004 ocupa Brasília anualmente, funcionando como assembleia geral e instância de decisão dos índios brasileiros. Em 2012, quando o ATL aportou no Rio+20, Samantha registrou o depoimento de 16 pessoas de 16 diferentes povos. “Essas pessoas falaram da sabedoria ancestral que está na dança, pintura, natureza e modos de produção. Me trouxeram a certeza de que a luta indígena começa na base, de dentro para fora, a partir da sabedoria e resistência dos mais velhos”, disse ela.
Isabel Taukane, da etnia bakairi, da região de Piratininga (Mato Grosso), uniu gênero e sustentabilidade ao estudar o Instituto Yukamaniru, organização local composta por 30 mulheres que executa projetos ambientais. “Nossa terra sofre com arrendamentos, que devastam a mata e prejudicam a água de nascentes. Por isso, temos viveiros de plantas em que trabalhamos continuamente, sob recursos próprios e alguma ajuda governamental”, explica ela. Cristiane Portela, pesquisadora associada ao Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), presente na banca examinadora, ressalta a singularidade do trabalho: “Essas mulheres buscaram o protagonismo em uma comunidade ainda muito machista, demonstrando habilidade sócio-política e ressignificando mitos de sua cultura. Ao estudá-las, Isabel trouxe a questão de gênero, já tão moderna, para dentro do debate indígena”.
Mariana Costa/UnB Agência
 Erlon de Jesus estudou manifestações festivas dos caboclos
LACUNAS - Formada em Propaganda e Marketing, Isabel Taukane fez o mestrado indígena para complementar sua formação. “Na UnB, preenchi essas lacunas ao encontrar um diálogo de saberes, em que podemos refletir sobre a contribuição dos povos indígenas para a sociedade brasileira, bem como da apropriação das questões não-indígenas para as aldeia", diz. "É uma troca”. Essa necessidade também preocupava o historiador baiano Erlon Fábio de Jesus, que defendeu tese sobre a permanência dos tupinambá em Olivença, no sul da Bahia. “Minha relação com a cultura indígena vem da minha própria família, formada por gente de Olivença que se miscigenou e foi morar nos bairros periféricos da cidade", afirma. "Meu trabalho não seria possível em outras universidades, cujo coronelismo branco não se interessa pelo tema. Na UnB, sim, pude falar não só do índio visto de fora, mas também ter aulas junto a eles, aprender e conviver em seus espaços”. Em campo, Erlon esteve junto a escolas e festas indígenas, dois pontos de reafirmação de identidade tupinambá. “A escola indígena estudada apresenta em seu projeto político-pedagógico a questão da luta pelo território, uma inovação dentro do projeto educacional. Da mesma forma, a Puxada do Mastro de São Sebastião, festa de cablocos que relacionam com a natureza e religiosidade, é um momento de revigoração da cultura e delimitação de espaço”, disse.
Graduado em Teologia e Gestão Ambiental, Chicoepab Suruí é outro que trouxe a academia para sua tribo. Os paiter suruí de Rondônia, tiveram quase 10% de suas terras degradadas em função de retirada ilegal de árvores, plantação de café e arroz, e implantação de pasto para gado. Em 2003, a associação indígena Metareilá diagnosticou o território e capitaneou o Plano 50 Anos Suruí de reflorestamento. “Estudei o impacto na percepção de meu povo dali em diante”, explica Chicoepab, “e vi que houve não só uma mudança ambiental, mas de consciência. Isso porque envolveu as famílias como um todo, desde a escolha do que plantar até a colheita”. Mais que isso, a tribo enxergou possibilidades econômicas nessa nova etapa. “Podemos aproveitar a floresta com ela em pé, produzindo medicamentos tradicionais, artesanato e frutos para comercialização”, avalia ele.
Mariana Costa/UnB Agência
 Chicoepab: duas graduações e um mestrado na defesa da terra
AUDIOVISUAL – A musicista Verônica Aldé trabalhou junto a um projeto-piloto do Museu do Índio, proposto pela Funai do Rio de Janeiro, de registro e documentação dos cantos indígenas. “O projeto é uma via para pensar a implantação de políticas públicas para salvaguarda dos cantos indígenas, ainda inexistentes no Brasil”, explica. Em vídeo de 30 minutos, produto final do mestrado, Verônica Aldé deu voz a emocionantes depoimentos de mestres krahô do Tocantins, que demonstram a música na tribo. “O som não tem significado apenas em si mesmo, mas também na carga religiosa que traz. Além disso, há educação e sustentabilidade na força que os rituais dão para a relação diária com a terra. Cada planta tem sua canção”, exemplifica.
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